Éuma descoberta sem precedentes para a arqueologia subaquática do nosso país. No sítio dos Cortiçais, em Peniche, investigadores encontraram vestígios romanos, transportados por um navio naufragado, entre o ano 15 a.C. e o ano 15 d.C. Em duas campanhas, foram descobertos mais de três mil fragmentos de ânforas, do tipo Haltern 70, e de cerâmica fina, a sigilata itálica. Outras variedades encontradas, com menos predominância, estão ainda por determinar.
O entusiasmo de Jean-Yves Blot, assessor do Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática, e de Jorge Russo, presidente do Grupo de Estudos e Pesquisas Subaquáticas, de Peniche, é visível, mesmo quando estão em terra. A imensidão do oceano Atlântico, que toca, a Sul da península, que já foi ilha, a zona dos Cortiçais, esconde uma nova página da sua história. "O passado de Peniche foi rescrito nos últimos dez anos", diz, com entusiasmo o arqueólogo Blot, que dirige os trabalhos.
E quase sempre por acaso. Há oito anos, foram descobertos fornos romanos, noutra zona da cidade, que permitiram perceber a importância, para a época, da indústria da pesca. Era nas vasilhas de cerâmica que se transportavam derivados de peixe, com destino a Roma. Mais recentemente, a descoberta da localidade de Eburobrittium deu uma nova vitalidade às teorias de que o mar chegava a Óbidos.
Em 2004, surgem os primeiros sinais de que um navio havia naufragado nos Cortiçais, graças a um mergulhador local. Os fragmentos encontrados entusiasmaram os arqueólogos, que iniciaram uma primeira série de imersões, no final desse ano, para avaliar o sítio. As "escavações" propriamente ditas iniciaram-se em Maio de 2005. Uma equipa composta por profissionais e estudantes começou, então, a delinear o "puzzle" de uma etapa histórica . É com a ajuda de um sugador que os arqueólogos conseguem desbravar terreno.
"O número de fragmentos de ânforas é bastante relevante", explica Jean-Yves Blot, mas "foi a presença da sigilata que permitiu datar com esta precisão a descoberta". Terminada a segunda campanha, iniciada há duas semanas, o material segue para o museu, onde será dessalinizado.
