A procissão não saiu, os ranchos não actuaram, o fogo-de-artifício esteve em riscos de não se realizar, mas ainda que a chuva tenha manchado as festas em honra da Imaculada Conceição, a tradicional subida ao pau, no Largo do Castelo, na Póvoa de Varzim, não podia deixar de se realizar. Numa tradição com mais de 50 anos, todos os anos, pela altura das "Festas do Castelo", no dia da Imaculada Conceição - e para muitos ainda o dia da mãe -, um pau ensebado é colocado no meio do jardim, em frente à fortaleza poveira. Quem conseguir trepar ganha o cabaz de Natal pendurado no cimo Vinho do Porto, nozes, figos, rosca e bacalhau.
"A tradição vem do meu avô, Manuel Russo. Quando era catraio, a nossa missão era passar cinco dias, antes das festas, a untar o pau com óleo queimado. Nos dois últimos dias, passávamos-lhe sebo", explica Manuel do Monte, que hoje lidera a comissão responsável pelas festas da Imaculada Conceição. As ruas enchiam-se de gente a assistir, entre as escorregadelas de uns e outros, as palmas e as gargalhadas, iam-se às vezes horas, até que alguém conseguisse chegar ao cimo.
Hoje, o pau é menos ensebado, são menos os aventureiros e a quem sobe é permitida a ajuda de cordas, mas ainda assim a tradição continua. Cá em baixo, aplaude-se e incentiva-se o homem que tenta chegar ao topo e ganhar a mesa de Natal.
Este ano, o tempo não ajudou. Em muitos anos, esta foi a primeira vez que a procissão de velas (que se realiza na quinta-feira à noite) não saiu. "Há muitos anos que não tínhamos um dia tão azarento", continuou Manuel do Monte, entre um compasso de espera a ver se a chuva passava.
Pouco depois das 16 horas, o jovem Milton Rajão, aproveitando "uma aberta", meteu pés ao caminho para a subida ao pau. Duas tentativas, com algumas escorregadelas pelo caminho, mas com a experiência de quem traz a tradição no sangue, lá chegou ao cimo.
Cortou os sacos com o cabaz de Natal e voltou a descer, entre os aplausos dos que cá em baixo esperavam o herói da festa.
