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Sete artistas portugueses propõem na próxima quinta-feira na sala Musicbox, em Lisboa, novas visões e interpretações de "FMI", um tema de referência da música portuguesa que José Mário Branco estreou em 1982, passam agora 25 anos.
"FMI - Give me some money" é uma ideia de uma turma da Escola Restart, que convidou um grupo de artistas a homenagear José Mário Branco pelo tema que compôs em 1979.
O espectáculo de dia 28 contará com Melo D, Kalaf, Ana Deus, Armando Teixeira, Sagas, Nel Assassin e os Spaceboys, que estrearão ao vivo temas inspirados em "FMI".
As actuações serão antecedidas de uma contextualização do tema pelo jornalista e editor discográfico Rui Miguel Abreu e pela audição da gravação original acompanhada por imagens projectadas ao vivo por André Carrilho e Nuno Correia. "O José Mário Branco é o pai do hip hop, no sentido de ser o primeiro artista de 'spoken word', e este tema é cultural e socialmente importante para o país", afirmou à agência Lusa Pedro Azevedo, da Restart e um dos promotores do evento.
"FMI" é um monólogo com cerca de vinte minutos gravado no Teatro Aberto em 1982, no qual José Mário Branco, acompanhado por guitarra acústica e flauta, recita e canta um texto que compôs "de rajada" numa noite de Fevereiro de 1979.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) foi o pretexto para José Mário Branco traçar um retrato social de Portugal no pós-revolução, um "retrato poético e satírico de um Portugal às voltas com a responsabilidade de ser livre", refere Rui Miguel Abreu na nota de apresentação do espectáculo.
José Mário Branco assume ainda hoje tudo o que escreveu, de uma só assentada, há 28 anos.
"Assumo inteiramente aquilo, mas felizmente não estou no estado em que estava na altura, amadureci. Tenho a mesma atitude radical e orgânica, mas é uma emoção mais serena", afirmou o autor à agência Lusa.
O músico recorda que estava a viver em casa do irmão em Lisboa quando compôs o tema - tinha acabado de "ser corrido do Teatro da Comuna e vivia-se ainda um refluxo do PREC".
Três anos depois de ter escrito o texto, que diz nunca ter decorado, José Mário Branco interpretou-o ao vivo, num espectáculo que, lembra-se, deixou alguns dos espectadores a chorar. "As pessoas ficaram muito tocadas com aquilo, passaram o mesmo processo que eu ao escrever, que começo com um tom irónico e vou endurecendo e ficando apanhado pelo próprio texto".
Escrever "FMI" significou "compreender aquilo que me tinha acontecido, senti um certo alívio por ter descarregado tudo, mas depois pensei o que é que eu faço agora?", pergunta José Mário Branco.
À distância de 25 anos, José Mário Branco compreende que o "FMI" pode agradar "às jovens gerações pelo aspecto formal de um desbragar de linguagem, de chamar os nomes pelos bois".