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"Qual Mundial na Coreia? Isso foi quando? O quê?" A onda de uma nação que nunca foi do futebol, mas que, "olhe, ganha", anda assim pelas ruas de Portugal. Esqueceu oportunamente o único percalço do percurso da selecção tricolor. Ou do galo. Ou dos "bleus". O desaire contra um Senegal composto por jogadores de clubes franceses não existiu. "Não se diz essas palavras", corrige-nos Clément, galináceo no sovaco e campeonatos inscritos a laranja no calção rasgado das calças de ganga. O Croácia-França antes do qual o apanhámos, em Leiria, é o que conta e mais nada. Lá correu pior... O Sol arde, um adepto azul encaixa o corpo mole na soleira de uma loja de roupa. "Ufa! Está demasiado calor!" Veio da Suécia, onde vive há 18 anos. Fala sem ninguém lhe perguntar, está sozinho em Leiria, os companheiros de viagem seguiram rumo ao Dragão do Porto. Vai lá ter depois. Para já, está ali, vindo atrás de uma massa informe. Os adeptos franceses têm todos os apoios imagináveis, mas não se agrupam. Não vêm de uma nação de futebol, insiste Alain. Vêm de uma nação que tem tido a sorte de ganhar. O Clube dos Adeptos da Selecção de França agrega cinco mil pessoas, que nem por sombra estão todos cá. E a Embaixada dos Adeptos Franceses ajuda os que pedem. Percorre a rota dos jogos, atrás de um slogan universal contra o racismo. "Somos assim". Moussa Semmane está estacionado frente à carrinha de apoio. "Soltos". Por isso é que nem sempre o azul é manta uniforme nas bancadas. Mistura-se. Une-se apenas para gritar "Zizou". E deve dar graças a gente como o casal que passa entre a conversa. Carlos e Fátima, portugueses de Portugal que já foram de França, estandarte tricolor gigante ao ombro... "Gente boa".
