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Terminaram há dias as filmagens em Cabo Verde da longa-metragem "A ilha dos escravos", uma co-produção da portuguesa Cinemate com os brasileiros da Prodifilme, os espanhóis da CPI e os cabo-verdianos da Mala Produções, a que se associou a Radiotelevisão Portuguesa, que garantirá desse modo a apresentação de uma versão em formato de mini-série, com três episódios de 50 minutos.
Depois de algumas semanas passadas também no Brasil, estará assim praticamente terminada a fase de rodagem deste novo filme de Francisco Manso, que regressa a Cabo Verde, após a sua primeira ficção de fundo, "O testamento do Senhor Napumoceno". Ficarão apenas a faltar algumas cenas que serão rodadas já em Portugal. A estreia do filme, anunciou entretanto em conferência de imprensa realizada em Cabo Verde a produtora Ana Costa, terá lugar apenas em Setembro de 2006, após o circuito dos festivais, sendo que a projecção televisiva está assegurada para o início de 2007.
Trata-se de uma produção ambiciosa, um raro filme de época no cinema português mais actual, e que aborda pela primeira vez o tema da escravatura. O guião de António Torrado inspirou-se no romance "O Escravo", escrito em 1856 por José Evaristo d'Almeida, publicado em folhetim em "A Voz de Cabo Verde", em 1916/17, e reeditado em 1988 pelo Instituto Caboverdiano do Livro.
A acção decorre na Ilha de Santiago, durante a primeira metade do século XIX, tendo como núcleo histórico o levantamento de tropas na Cidade da Praia, instigado por oficiais desterrados para o arquipélago, em consequência da derrota dos partidários do infante D. Miguel, na guerra civil.
A trama aventurosa é alimentada pelo facto de um grupo de escravos, recém capturados nas costas da Guiné, fugir de um navio negreiro francês naufragado ao largo da ilha, refugiando-se nas montanhas, motivando uma forte repressão militar. Finalmente, existe ainda um foco romântico, sob a forma de um amor impossível e secreto, vivido por um escravo e a sua jovem senhora, uma bela mestiça.
Com um núcleo forte de personagens, um dos grandes motivos de expectativa em relação ao resultado final desta obra reside no excelente elenco que se conseguiu reunir, e que inclui, entre outros, os portugueses Diogo Infante, Vítor Norte e João Lagarto, os brasileiros Milton Gonçalves, Zezé Motta e Vanessa Giacomo, e ainda a jovem cabo-verdiana Josina Fortes, que acabou de ser nomeada directora do Instituto de Cultura do Mindelo.
Focando uma realidade histórica que envolvia países de expressão portuguesa em três continentes, "A ilha dos escravos" tem a particularidade de hoje, dois séculos passados, reunir os esforços de companhias e organismos desses mesmos territórios, numa feliz expressão do vigor e das potencialidades da lusofonia. O mercado português, brasileiro e africano de língua portuguesa, e ainda o latino-americano, por via da participação espanhola na produção, bem como a temática universalista do filme, fazem antever uma forte divulgação de um dos projectos mais arrojados do audiovisual português.
Em Cabo Verde, o Governo concedeu todos os apoios possíveis, sobretudo logísticos e humanos, com a Cinemate, em troca, a promover uma acção de formação a técnicos cabo-verdianos.
