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É provavelmente a primeira vez que um festival de Verão se debruça exclusivamente na música de cariz mais popular ou pimba.
A diferença entre as duas nomenclaturas é algo ténue, vaga e subjectiva - afinal, o que distingue a música popular da música pimba? Onde acaba uma e começa a outra?
"Não há que ter medo da palavra pimba - ela está englobada na música popular, tal como também está a música tradicional portuguesa de conjuntos tipo Zimbro, do 'Apita o comboio' com os cavaquinhos", explicou, ao JN, Bruno Raposo, locutor da Rádio Universidade de Coimbra e um dos maiores divulgadores da música popular portuguesa na Internet .
É ele o autor do famoso site Portal Pimba (www.portalpimba.com), verdadeira mina de informação que acompanha assiduamente tudo o que vai acontecendo no que concerne à música de cariz popular portuguesa.
Bruno asseverou ainda "A música pimba são os Emanuéis, Ruths Marlenes e afins; música com ritmo dançável, batida forte e repetitiva e na qual geralmente se rima amor com dor e paixão com coração".
Bruno Raposo entende que o festival Credial, que hoje arranca em Ponte de Lima para uma maratona de três noites, é "uma brisa fresca no sufocante panorama dos festivais de música portugueses dominado principalmente pelo pop-rock".
No que à programação diz respeito, o especialista na matéria considerou "natural" que a organização tenha preferido "optar por apostas seguras" como são os casos de Tony Carreira, Mickael Carreira ou Emanuel.
Os dois primeiros, garantiu, adoptam "uma sonoridade mais romântica", ao passo que o terceiro "é o pai do pimba e traz música mais dançável".
Prosseguindo a sua análise à programação, Bruno Raposo afirmou "Nos nomes secundários, a diversidade podia ser um pouco maios escassa, já que só há três tipos de artistas: os românticos, como José Alberto Reis, apelidado de Júlio Iglésias português; os marcadamente pimba, que são basicamente os restantes; e a Ana Malhoa, artista em que é impossível definir o estilo, visto que todos os anos nos surge com propostas diferentes".
"Este ano", continuou, "a Ana Malhoa deverá apresentar uma sonoridade mais reggaeton, podendo ser uma das surpresas do certame".
Não há pimba alternativo?
Na sua óptica, o festival tem um único defeito "A nota negativa vai para a não inclusão de um palco secundário que poderia ser dedicado aos artistas independentes, daquela onda que se convencionou designar música popular alternativa". Como por exemplo? Bruno Raposo não demora a citar exemplos: "Artistas como Leonel Nunes (o tal artista que bebe um garrafão de tinto por cada concerto que dá e é autor de "Santo de pau feito", considerado como o "'Ok computer' da música popular alternativa"), Amadeu Mota, Star Music, Luís Voltinhas ou Zé Manda Bocas".
Todavia, Bruno Raposo tem esperança de que esta lacuna "seja "colmatada em próximas edições".
Emanuel é o autor
A designação "música pimba" não é assim tão velha quanto isso. Tem pouco mais de uma década. Surgiu em 1995, altura em que o cançonetista Emanuel editou "Pimba, pimba", famoso 'hit' de música popular que vendeu mais de meio milhão de exemplares. A partir dessa altura, a palavra "pimba" começou a designar toda uma vasta gama de música popular.