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Renz van Luxemburg, engenheiro holandês responsável pelos testes sonoros, revela "valores acima do óptimo" "Os dois auditórios, pela total ausência de ruído exterior, são ideais para gravações", afirma
"ACasa da Música é uma das melhores salas do mundo em termos de som", assegurou, ao JN, o engenheiro de arquitectura acústica, Renz van Luxemburg, responsável pela aferição do conjunto de fenómenos de reflexão e absorção sonoras no interior do edifício de Rem Koolhaas.
Numa comparação directa com a sala Concertgebouw, em Amesterdão, o Musiekverein, em Viena ou o Auditório da Sinfónica de Boston, nos EUA - todas com a forma de 'caixa de sapatos' -, a Casa da Música "apresenta um som ainda mais claro, mais distinto, sobretudo na propagação das notas agudas".
O técnico holandês, que passou as últimas semanas a realizar testes de som, tanto com o auditório cheio - como aconteceu a 11 de Março, no primeiro concerto público, com a Orquestra Nacional do Porto e o coro de crianças -, como com o auditório vazio, assegura que os valores obtidos na medição "estão acima do óptimo e dentro das exigências relatadas nos diversos estudos de Beranek, um dos melhores especialistas de acústica em todo o mundo".
O critério de aferição de qualidade dos dois auditórios privilegiou três factores o tempo de reverberação, a relação dos baixos e a claridade. "Em todos eles, os resultados são surpreendentemente bons - sobretudo no grande auditório", afirma.
No último teste, realizado anteontem, a reverberação medida situou-se ligeiramente abaixo dos 1,6 s. No caso do auditório vazio, a reverberação é de 2,0 s (média de 500/1000 hz), o que "é considerado muitíssimo bom". A qualidade acústica beneficia do facto de o auditório central não possuir fila de camarotes - tem apenas dois, pequenos e estrategicamente colocados num ponto alto das paredes laterais.
Van Luxemburg refere a circunstância de a programação aspirar a ser o mais ecléctica possível, o que poderia ter erguido dificuldades. "Ao contrário do que acontece com auditórios exclusivamente dedicados à música clássica e sinfónica [a Casa da Música também terá rock e outros géneros], o grande auditório possui, acima do tecto, galerias para equipamento técnico de luz. Mas fomos muito bem sucedidos a contornar esse problema e conseguimos até optimizar o som dentro dessa condicionante".
Concha acústica é móvel
A distribuição equitativa de som na sala é um dos factores mais relevantes. "A Casa da Música não terá 'cadeiras más' como acontece noutros auditórios", assevera o engenheiro. "Nas filas da frente, por exemplo, onde o som é sempre mais alto, conseguimos contornar o problema com a colocação de uma canópia (concha acústica) que impedirá que o som directo se sobreponha à sonoridade geral".
A canópia, no entanto, só será usada nos espectáculos de música clássica ou sinfónica. Nos concertos de rock, como será o caso de Lou Reed, na próxima quinta-feira, será içada para junto do tecto. "Como a concha tem duas posições, horizontal e vertical", esclarece Luxemburg, "pode ser usada para filmes-concerto, acolhendo imagens de um projector".
"O auditório funciona em toda a sua plenitude para música clássica - é aí que se consegue o melhor som", certifica. "Mas não perde qualidade no rock, porque dominamos a relação de baixos e a claridade". Para isso contribuíram as cortinas acústicas colocadas nos dois extremos do auditório.
O resultado dos testes leva Renz van Luxemburg a concluir que "os dois auditórios são ideais para gravações. O nível de ruído exterior e dos serviços mecânicos dentro do auditório é muito baixo". O técnico holandês, que já foi responsável pela mediação acústica do Teatro de Portimão e do Complexo Multiusos das Caldas da Rainha, irá "acompanhar a situação muito de perto durante os próximos seis meses". Depois, efectuará apenas pequenas afinações localizadas no tempo.