Angola: Grupo de ONG pede explicações ao porto de Luanda sobre navio chinês com armas para o Zimbabué
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Luanda, 05 Mai (Lusa) - Um grupo de organizações não-governamentais angolanas pediu uma audiência ao porto de Luanda para garantir que a atracagem e descarga de armas do navio chinês An Yue Jiang são fiscalizadas, disse hoje à Lusa um dos subscritores.
A Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD), o Centro Nacional de Aconselhamento (NCC) e o Grémio ABC querem ainda obter, na audiência com o presidente do conselho de administração do porto de Luanda, "informação coesa" sobre os destinos do navio An Yue Jiang.
Reis Luís, director executivo do NCC explicou à Lusa que as garantias dadas pelo Governo, que em comunicado emitido há mais de uma semana anunciou a permissão de entrada do barco mas proibindo a descarga do armamento para o Zimbabué, "não são suficientes".
Esta iniciativa de três ONG surge depois do Conselho de Coordenação dos Direitos Humanos de Angola (CCDH) ter avançado com uma providência cautelar no Tribunal Marítimo de Luanda com o objectivo de garantir que o material bélico fica no porão do An Yue Jiang.
A providência cautelar foi aceite e o tribunal instruiu o CCDH, a Polícia Marítima e a Capitania do Porto de Luanda de proceder à fiscalização da descarga do navio.
As investidas das ONG para garantir que as armas para Harare não são descarregadas em Angola acontecem depois de o An Yue Jiang ter chegado ao largo da capital angolana oriundo da África do Sul e de Moçambique onde não foi autorizado a atracar.
Entretanto, o An Yue Jiang ainda está ao largo do Porto de Luanda para descarregar, reconfirmou hoje à Lusa fonte portuária.
A mesma fonte adiantou que o An Yue Jiang ainda não obteve autorização para entrar no porto.
No entanto esse procedimento pode não acontecer porque, devido ao congestionamento do porto de Luanda, alguns dos navios descarregam para batelões que, por sua vez, mais manobráveis, descarregam os contentores nas docas.
A atenção dada a este navio chinês, que transporta três milhões de munições para as espingardas automáticas AK-47, 1.500 RPG (morteiros com auto-propulsão) e mais de três mil granadas de morteiro para o Zimbabué, começou há mais de duas semanas quando a justiça sul-africana impediu o desembarque do armamento na África do Sul.
O mesmo aconteceu em Moçambique.
Em ambas as situações a crise eleitoral vivida no Zimbabué e o perigo de este material militar ser utilizado como instrumento de repressão foi apontada como a causa para a recusa.
O navio chinês chegou, entretanto, às proximidades de Luanda, depois de um porta-voz do Governo de Pequim ter garantido que o An Yue Jiang tinha sido mandado regressar à China depois das recusas sul-africana e moçambicana.
Até à emissão de um comunicado oficial do Governo de Luanda no final da passada semana, não era do conhecimento público que o navio transportava, também, material destinado a Angola.
No mesmo comunicado, o Executivo de Luanda garantia que o An Yue Jiang não estava autorizado a descarregar o material destinado a Harare.
Entretanto, a Federação Internacional dos Transportes (FIT), em nota enviada na quinta-feira ao fim do dia à Agência Lusa em Luanda, garantiu que está atenta aos movimentos do navio chinês e adiantou que este poderá entrar no porto de Luanda em breve.
Garantiu igualmente a FIT que mantém em curso esforços para agregar os sindicatos ligados ao sector para rejeitarem o descarregamento do armamento destinado ao Zimbabué.
A FIT sublinha ainda que a Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores dos Transportes e Comunicações de Angola (FSTTCA) já afirmou que os seus membros vão recusar descarregar a material militar.
Ainda hoje de manhã, o presidente do Conselho de Coordenação dos Direitos Humanos de Angola, o advogado David Mendes, disse à Lusa que insistiu junto da administração do porto para saber em que pé está o processo de descarga do An Yue Jiang.
RB.
Lusa/fim
