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Luanda, 17 Mar (Lusa) - A "Rádio Despertar" acusou hoje o secretário para a Informação do MPLA, Norberto dos Santos "Kwata-Kanaua", de pretender interferir na linha editorial da estação, uma situação que considerou "absurda".
Em declarações à Agência Lusa, o director desta estação emissora, Alexandre Neto Solombe, afirmou não perceber que um partido político tenha necessidade de se reunir com a direcção da rádio para analisar a sua linha editorial.
Para Alexandre Solombe, não é da "competência" do secretário para a Informação do MPLA, partido no poder, questionar a rádio sobre assuntos relativos à sua programação.
O director da "Rádio Despertar" reagia às acusações do secretário para a Informação do MPLA, segundo as quais a emissora estaria a fazer política a favor dos partidos da oposição angolana e não a assumir-se como uma estação comercial, razão pela qual foi criada.
Na altura, Norberto dos Santos manifestou a intenção de se reunir com a direcção da rádio para analisar a situação.
Por seu lado, o director da emissora afirmou ter enviado uma carta ao secretário do MPLA a solicitar "argumentos técnicos" para questionar a rádio.
"A projecção do sinal da Rádio Despertar é que está a preocupar, porque embora emita em Frequência Modulada, devendo apenas ouvir-se em Luanda, as suas ondas sonoras chegam a atingir cantos mais longínquos do país", referiu Alexandre Solombe.
A rádio já foi inspeccionada pelo Instituto Nacional de Comunicações (INACOM) no sentido de avaliar o alcance do sinal, uma iniciativa que o director da rádio considera ter sido desencadeada por um "órgão político".
"Acho caricato que um partido político entenda discutir com a direcção de uma rádio aspectos que dizem respeito à programação", frisou.
Alexandre Solombe afirmou que neste momento a Rádio Despertar é a mais ouvida em Luanda, de acordo com uma sondagem feita pela rádio britânica BBC, que tem escritórios na capital angolana.
"Isto incomoda e pode também pôr em evidência o carácter dos regimes ditatoriais. Significa que estamos ainda numa democracia muito ténue", comentou.
Nos últimos tempos, a "Rádio Despertar" tem inserido na sua programação debates públicos directos, em que os ouvintes criticam sistematicamente as autoridades, pondo em causa o seu desempenho, face às carências sentidas pelas populações.
À pergunta se a rádio está ligada à UNITA, Alexandre Solombe preferiu questionar se os angolanos simpatizantes da UNITA não podem constituir uma sociedade comercial que inscreva uma estação emissora e que respeite as leis do país.
Em funcionamento desde 2006, a "Rádio Despertar" substituiu a antiga Voz da Resistência do Galo Negro, emissora da UNITA, está instalada em Viana, nos arredores de Luanda, contando com 15 profissionais e 18 horas de emissão diária.
Da sua grelha de programação constam espaços informativos, de entretenimento, cultura e desporto. A Rádio Despertar possui correspondentes em Cabinda, Uíge, Benguela e Huíla.
HSO.
Lusa/fim
