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Assobios ao intervalo para o F. C. Porto, já a perder por 2-0, e aplausos, no final, para o golo de Juninho (3-0). Elucidativo, portanto. Esta foi a reacção do público à pesada derrota caseira, quando, antes do apito inicial, os adeptos portistas se preparavam para mais uma festa, a última intramuros. Contrariando estas naturais expectativas, acabou por ser o Nacional a dar baile, com Fábio Coentrão a bisar e a fazer de vilão.O F.C. Porto não sofria tantos golos em casa há mais de três anos, desde que foi goleado (4-0) pelo mesmo Nacional.
A equipa da Madeira realizou uma exibição personalizada, a distanciar-se da falta de motivação portista. O F. C. Porto, ao sofrer três tentos, viu esfumar-se a hipótese de derrubar o recorde do Belenenses, que só sofreu dois golos em casa, na época 1939/40. A equipa de Jesualdo Ferreira perdeu pela primeira vez no seu terreno, despediu-se da pior maneira do Dragão, com a atenuante do título estar, há muito, na mão, e o pensamento já estar virado para a final da Taça de Portugal.
Surpresa total. Não só pelos golos, mas pela forma como abriu e fechou o primeiro tempo. Ver um adversário dominar, quase a toda a linha, no campo do tricampeão, tinha sido, até à data, coisa rara. É obra! Forma bem justa para premiar a estratégia e a fortuna madeirenses, a contrastar com a inoperância azul e branca.
Jokanovic, de quem se diz estar de saída do clube da Choupana, montou bem a equipa e teve no benfiquista Coentrão a sua pérola. O treinador apostou em três centrais - Felipe Lopes, Cardozo e Ricardo Fernandes - a formarem a linha mais recuada, e, a partir daí, construiu tudo o resto, povoando o sector intermédio e dando via verde a Juliano e a Coentrão para levarem o jogo até à zona avançada, onde Rodrigotinha lugar fixo.
No plano teórico, as ideias eram boas e, porque o F. C. Porto ajudou bastante, na prática a táctica resultou. Foi funcionando, primeiro, ao afastar os dragões da sua área, e, depois, ao "matar" o jogo, com dois golos. Da primeira vez, o lance nasce num mau passe de Quaresma, da segunda vez a clareira aberta até serviu de musa inspiradora para o grande golo do carrasco Coentrão. Tanto num lance como no outro, foi gritante a passividade portista.
Mais decididos na discussão dos lances, com tempo de sobra para pensar as jogadas, os madeirenses jogaram a seu bel-prazer, ante um F. C. Porto relaxado em demasia, em oposição à autoritária equipa que tinha goleado o Guimarães. Em relação à Cidade Berço, entraram os titularíssimos Bosingwa e Lucho, mais Pedro Emanuel. Porém, nem se deu pelas trocas, tal foi a exibição desinspirada e a baixa rotação. O F. C. Porto só dispôs de uma oportunidade digna desse nome, que Quaresma, de trivela, desperdiçou. Na segunda parte, Jesualdo substituiu o apagado Mariano pelo ponta-de-lança Farías. Também Lino, uns furos abaixo do que pode fazer, foi sacrificado, para dar o lugar a Tarik, fazendo recuar Raul Meireles. O técnico lançava trunfos do banco, houve alguma pressão e algumas oportunidades, mas nada mais. Isto, enquanto na outra baliza Helton continuava a ser posto à prova. No último sopro, Juninho encerrou a contagem.