Muito antes de chegar a Marvão, o seu castelo é avistável, lá em cima, recortado no céu, como se tivesse nascido por conta própria sem esforço humano. Não é verdade, evidentemente, e aos poucos, vai-se também desvanecendo a imagem de cenário de fadas que ao longe começa por ter.
Ali é Alentejo, Alto Alentejo, distrito de Portalegre, e dentro das muralhas da vila vivem uns escassos 200 habitantes. O ar é limpo, não há indústrias por perto, e os sons da natureza, a começar pelos dos insectos, só têm como inimigo o ruído dos passos de quem caminha. Agora é assim, mas muito tempo antes houve épocas menos plácidas.
Por volta de 1160, D. Afonso Henriques tomou Marvão, mas não há documentos que o comprovem. Mais tarde, D.SanchoI atribuiu-lhe a carta de foral. Quatro reinados depois, D. Dinis tornou Marvão num importante ponto de defesa. Muito mais tarde ainda, durante o período da Restauração, veio a sofrer com as incursões inimigas e ao longo de vinte anos as muralhas tiveram uma existência atribulada com permanentes conflitos entre a vila e Valença de Alcântara, até ao dia em que o Marquês de Marialva foi "dono" daquela praça espanhola por breves quatro anos.
Mas Marvão tem uma história muito mais para trás. Deve o seu nome a Ibn Marwan, figura do Islão peninsular que, pelos anos finais do século IX, aqui se fortificou em conflito com o califa. A primeira referência ao povoado data desse período.
Nos séculos seguintes, as condições de relativa paz no seio do Islão peninsular roubaram importância à localidade. Só no sec. XII volta a haver referências ao sítio, numa altura de renovada importância estratégica para o o avanço do reino cristão de Portugal.
Do recinto fazem parte dois níveis diferenciados. Um deles, mais pequeno, no extremo oposto ao da povoação, corresponde ao castelo propriamente dito, com uma entrada em cotovelo protegida pela torre de menagem quadrangular. Aqui existe ainda a porta da traição, também protegida por pequeno torreão, e a cisterna, talvez ainda islâmica. O recinto inferior é bem mais vasto e possui um amplo espaço para aquartelamento e movimentação de tropas. Aqui, o elemento mais significativo é o complexo sistema de entrada, com tripla porta protegida por outros tantos adarves e por várias torres.
O sistema medieval da fortaleza manteve-se até ao sec. XVII, altura em que Marvão viu reforçada a sua importância no quadro das guerras da Restauração. Sob o impulso do abade D. João Dama, reformulou-se parcialmente o dispositivo, com baluartes estrelados a proteger as principais portas e o extremo da fortaleza.
