Corpo do artigo
Estão a nascer borboletas, joaninhas, peixes, vacas e flores nas paredes do serviço de Pediatria do Centro Hospitalar de Gaia, instalado junto ao tribunal. Nascem entre nuvens e arco-íris, estrelas e notas de música, mercê da disponibilidade de voluntários que, há uma semana, dão horas do seu tempo para alegrar meninos internados.
Quarta-feira, Dia Mundial da Criança, o trabalho fica pronto. Espera-se que contribua para atenuar a dor e a fragilidade que a passagem por um hospital sempre carrega.
Cem litros de tinta de muitas cores, oferecidas pela Kar-Tintas, transformar-se-ão em desenhos, postos nas paredes por Branca Costa e Zita Freitas, duas artistas plásticas que tornaram os corredores em salas de aula temporárias. Outras mãos amigas ajudaram.
Entre elas, estavam ontem as de Sérgio, 24 anos, projectista desempregado, único homem entre um batalhão de mulheres. "A solidariedade faz bem à saúde", justificou, acrescentando que " a comunidade tem de apostar mais em ajudar os que sofrem".
"Os desenhos nas paredes vão permitir que o hospital, velho e pouco atraente, se torne num local mais agradável para as crianças que necessitam de ficar internadas ou que se deslocam à Pediatria. Procura-se que essa passagem seja curta. É com a família que as crianças devem estar. Mas quando tal não é possível, é bom fazer qualquer coisa em busca de sorrisos", afirmou, ontem o director-clínico do hosptal, António Vilarinho.
Nma, de dois anos, e Mariana, de seis, duas meninas guineenses internadas ao abrigo de um protocolo nacional com os países lusófonos serão, quiçá, as que mais agradecerão que estejam a nascer borboletas, joaninhas, peixes, vacas e flores. Há cerca de um mês que estão, sem família, na Peditaria de Gaia. Com queimaduras no corpo, estão a ser submetidas a intervenções de cirurgia plástica reconstrutiva .
Quarta-feira, para além da pintura mural, haverá marionetas, histórias e palhaços. E caras pequeninas mais alegres.
Margarida Fonseca
