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Galegos e portugueses chegam a fazer fila para se deixarem fotografar ou filmar ao lado de ementa afixada junto à entrada de uma casa de pasto de Ponte de Lima, cardápio onde o sexo se junta ao calão para dar um novo nome às iguarias aí confeccionadas. "Fodinhas quentes", "pilas de gato" e "cu de galinha" são nomes de alguns dos petiscos confeccionados pela proprietária do estabelecimento, Márcia Abreu, que roubam a atenção ao mais incauto dos visitantes. A ideia, com cerca de três anos, nasceu da vontade de fazer "algo diferente", assegura.
Situada na Rua do Rosário, no centro da vila, a casa de pasto "Os Telhadinhos" é iluminada por uma luz ténue. Dispõe de três ou quatro mesas com banquetas, a que se junta um balcão repleto de petiscos. O espaço chegou já a funcionar como livraria, entretanto encerrada. "Todavia, antes disso, funcionava aqui uma taberna", aponta Márcia Abreu, entendendo a aposta como um "regresso ao passado". Segundo a proprietária, nascida no Rio de Janeiro, há 40 anos, filha de pais emigrantes, "raro" é o caso do cliente que entra por curiosidade e não consome nada. "Acabam sempre por provar qualquer coisa", confidencia. Sem papas na língua, afirma que vários são os clientes que lhe pedem uma "fodinha quente", ao que responde se "querem na racha ou embrulhada", isto é, se o cliente deseja uma patanisca de bacalhau no pão ou embrulhada num guardanapo. Nada de confusões. Quanto à origem do nome, disse que, quando trabalhava num restaurante de Ponte da Barca (que deixou para se dedicar à casa de pasto), uma funcionária confeccionou pataniscas mas esqueceu-se do ingrediente essencial, o bacalhau. Sem nada saber, foi, então, chamada à atenção por clientes e, enquanto tentava apaziguar os ânimos, um exclamou: "Mas que grande foda!". Nascia, assim, um dos nomes mais emblemáticos da casa, que haveria de levar muitos a conhecer a tasquinha de Márcia Abreu. Foi o caso de Joaquim Reis, antiquário de profissão, natural de Santo Tirso: "Quando reparei na ementa afixada na rua, entrei no estabelecimento. Por curiosidade, é claro. As fodinhas chamaram-me a atenção. Serviram-me uma patanisca de bacalhau muito saborosa e fiquei desde logo cliente". Semelhante sedução experimentou António Faria, de Braga: "Foram as fodinhas que me atraíram".
Da opinião de que um palavrão "pode ser saboroso como um bom tempero", a empresária refere que são os turistas que acham mais graça à ementa. "Os clientes tradicionais estão já habituados ao cardápio. Agora, para os de fora, é uma autêntica novidade".
Ao afiançar que pessoas há que vêm de muito longe "à procura de uma foda quente", Márcia Abreu disse que o número de iguarias servidas na tasquinha é já superior às que constam do cardápio. "Vamos fazer novas molduras para exibir petiscos que não estão na ementa, como os corninhos de marcha lenta (caracóis). Mas quem os quiser, pode pedir. Serão servidos à mesma", garante.
Luís Henrique Oliveira
Ementa
Fodinhas quentes
Pataniscas de bacalhau
Mentiroso
Bolinho de bacalhau
Pilas de galo
Chouriço
Escarrapachada
Codorniz
Chupão de molho verde
Polvo
Corninhos de marcha lenta
Caracóis
Cu de galinha
Ovo recheado
Putinha de vinho verde
Copo de vinho