Exposições: Biblioteca Nacional mostra "documentos raros e valiosos" sobre a colonização do Brasil
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Lisboa, 19 Mai (Lusa) - A Biblioteca Nacional (BNP), em Lisboa, inaugura terça-feira duas exposições de espécies bibliográficas e "documentos raros e valiosos", tendo como pano de fundo a colonização portuguesa do Brasil.
Uma da exposições, intitulada "Tesouros brasileiros", apresenta "as espécies mais valiosas", tanto documentos iconográficos, como cartográficos e códices provenientes dos fundos da Biblioteca Nacional e da Biblioteca da Ajuda, que desde a entrada em vigor do PRACE, em Abril do ano passado, é tutelada pela BNP.
Em declarações à Lusa o director da BNP, Jorge Couto, afirmou que "os mapas, e outros documentos ricamente iluminados serão os que mais chamarão à atenção do visitante", mas realçou, entre os materiais expostos, "os primeiros textos impressos pelos Jesuítas".
Os religiosos chegaram ao Brasil acompanhando o primeiro governador-geral, Tomé de Sousa, em 1549.
"Era um grupo de seis, liderados pelo padre Manuel da Nóbrega. A missionação portuguesa foi, aliás, fortíssima", afirmou.
Na mostra patente na Biblioteca, ao Campo Grande, estará também patente o primeiro exemplar impresso da Carta de Pêro Vaz de Caminha, "publicado aquando a chegada do Rei D. João VI pelo padre Manuel Aires do Casal, na sua 'Corografia Brasileira'".
"O critério desta exposição é a do tesouro documental, o documento único, raro e valioso, como mapas, códices ricamente iluminados, plantas de fortificações ou de arquitectura civil, gravuras, modelos de fardamentos, ou até impressos raros", disse Jorge Couto.
Outra exposição também inaugurada terça-feira intitula-se "América portuguesa" e, tal como "Tesouros brasileiros", abrange o período de finais do século XVI até 1808, quando chegou a Família Real portuguesa ao Brasil.
A mostra "América portuguesa" inclui a colónia do Sacramento, actualmente integrada no território do Uruguai, por força do Tratado de Madrid de 1750, "mas que na realidade só a partir de 1777 passa em definitivo para a Coroa espanhola", explicou Couto.
Esta exposição está dividida em sete núcleos, procurando "dar ao visitante uma visão diacrónica da presença portuguesa e como se reflectiu em diferentes vertentes, da sociedade à economia.
O primeiro intitula-se "Sociedades ameríndias antes da chegada dos portugueses e encontro", o segundo "Colonização e confrontos com as gentes da terra e expansão territorial".
Relativamente à expansão territorial, Jorge Couto afirmou que "o território foi conquistado a pulso, dos 2,5 milhões de quilómetros quadrados que nos cabia, chegou-se aos actuais oito milhões".
O terceiro núcleo intitula-se "Disputas com as potências europeias e delimitação de fronteiras", estando subdividido em três partes, relativas a cada uma das potências que ameaçou o território brasileiro: Espanha, França e Províncias Unidas (actual Holanda).
"Actividades económicas" é o título do quarto painel da exposição, enquanto o quinto é a "Missionação", e o sexto é sobre "A produção cultural e científica".
"Inicialmente a produção cultural é exclusivamente portuguesa e só a partir do século XVII começa a surgir da elite filha da terra, nomeadamente a partir de Gregório de Matos", explicou Jorge Couto, especialista em história do Brasil.
A mostra encerra com a partida de Lisboa da Família Real para o Rio de Janeiro, título do sétimo painel.
Paralelamente, também terça-feira, será lançada a obra "Cartas do Rio de Janeiro (1811-1821)" de José Joaquim dos Santos Marrocos.
Esta obra reúne "um conjunto de cartas que Marrocos, encarregado de velar por um conjunto de volumes e que foi bibliotecário de D. João VI no Rio, escreveu para o seu pai, em Lisboa, descrevendo os mais ínfimos pormenores do quotidiano, usos e costumes".
Um total de 236 cartas que fazem parte do espólio documental da Biblioteca da Ajuda, em Lisboa, e que são agora publicadas, "no seguinte da política da BNP em editar regularmente fontes documentais".
Como componente multimédia à exposição é exibido o filme "Como era gostoso o meu francês", (1971) de Nélson Pereira dos Santos
Após a inauguração, o agrupamento Circa 1800 - com Maria Repas Gonçalves (soprano), Pedro Caldeira Cabral (guitarra) e Duncan Fox (contrabaixo) - interpretará um conjunto de modinhas luso-brasileiras oitocentistas.
O programa inclui, entre outras, obras de António da Silva Leite (1759-1833), mestre de capela na sé catedral do Porto que dedicou grande atenção à guitarra e criou um conjunto variado de obras de música profana; de Manuel José Vidigal, afamado guitarrista que viveu nos últimos anos do século XVIII e princípios do século XIX; de José Maurício (1752-1815), mestre de capela na Sé de Coimbra, e de Cândido Inácio da Silva (1790-1856), autor de vasto e celebrado conjunto de modinhas e lunduns, de que foram publicadas várias edições no Brasil da época.
NL.
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