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Fosforeira fecha portas e
dá lugar à Chama Vermelha
uando hoje soaram as 17 horas, as portas da Fosforeira Portuguesa irão abrir-se para deixar sair, pela última vez, os seus quase 40 trabalhadores. A empresa, sediada em Lisboa e com fábrica em Espinho, a única a produzir fósforos na Península Ibérica, vai fechar ao fim de 80 anos. Felizes por terem conseguido vencer a luta pelos seus direitos legais, os operários saem no entanto tristes. A maioria trabalhou entre aquelas paredes mais de 30 anos e depara-se agora com o desemprego. Muitos equacionam já a emigração.
A produção de fósforos não vai, no entanto, acabar. O director fabril da Fosforeira, Jaime Teixeira Pinto, conseguiu ver aprovada a sua proposta de continuação. E por isso, concluído o trespasse cujo valor não foi dado a conhecer, as mesmas portas que hoje se fecharão, voltarão a abrir na segunda-feira. A empresa chamar-se-á então Chama Vermelha, S.A.
Segundo o acordo estabelecido com a administração da Fosforeira, Jaime Teixeira Pinto poderá continuar a usar as instalações da fábrica situada na Rua 37 durante um ano. Nessa altura, a Chama Vermelha deverá mudar-se para outro local, provavelmente para um concelho limítrofe.
O trespasse incluiu, ainda, todas as máquinas, o material tecnológico e a rede comercial.
Segundo Jaime Teixeira Pinto, a empresa irá arrancar com oito operários, "os mais empenhados na continuação da actividade", e a quem caberá dar formação aos futuros trabalhadores.
"Já fui contactado por várias pessoas, incluindo ex-trabalhadores da Fosforeira que haviam saído em anteriores reduções de pessoal e que acreditam neste projecto", explicou. A ideia será chegar às duas dezenas de operários.
Para já, a nova empresa irá vender o stock ainda existente, mas possivelmente dentro de um mês começarão a aparecer no mercado as primeiras caixas produzidas pela Chama Vermelha.
O agora administrador pretende consolidar a posição deixada pela Fosforeira no mercado nacional e em breve começará o "piscar de olhos" ao mercado espanhol, onde desde há um ano existe também um vazio em termos de produção de fósforos.
Coleccionar fósforos e ganhar cultura
António Pinheiro
Coleccionador
António Pinheiro, residente na Maia, entrou no negócio da venda de tabaco e de fósforos com apenas 25 anos. Três anos depois, assumia já a direcção do chamado Depósito de Tabaco da Areosa. Apesar da responsabilidade e exigência do cargo, António Pinheiro lá arranjava tempo para alguns hóbis, um deles o coleccionismo. Coleccionou lápis com publicidade, porta-chaves, moedas e, talvez influenciado pelo trabalho, começou a coleccionar caixas de fósforos. Hoje tem centenas, a maioria organizadas em colecções que a Fosforeira Portuguesa e a já extinta Sociedade Nacional de Fósforos punham no mercado.
As colecções são variadas e, juntas, explica António Pinheiro, representam quase uma enciclopédia. É que todas as colecções eram temáticas, claro está, e atendendo ao tema, forneciam, em cada caixa, explicações sintéticas da imagem que surgia na "cara". Barcos famosos e os seus feitos, borboletas, com os seus nomes científicos e habitats, desportos e os campeões nacionais e mundiais de cada modalidade fazem parte do rol de conhecimentos que, curiosamente, fazem António Pinheiro acertar muitas vezes nas perguntas de concursos como a "Herança" e afins, quando sentado no sofá lá de casa.