Mário Brochado Coelho, 66 anos, diz que as glórias lhe preenchem dois dias e que as derrotas lhe duram para sempre. Há dias agraciado pelo presidente da República com a Ordem da Liberdade, saboreia a distinção sem deslumbramento, apegado a um charuto pachorrento e às imensas memórias de uma vida entre lutas, grandes causas e paixões irresistíveis, como aquela que o levou a abandonar o escritório para se dedicar ao SAAL/Norte, de 1974 e 1976.
A política atrai-o ainda, embora a partir de 1981 "tivesse chegado à conclusão de que era advogado". Até aí , o seu nome esteve ligado ao movimento anti-colonial, à defesa dos presos políticos, à fundação da Cooperativa Afrontamento (1966) - com António Leite de Castro, Francisco Sá Carneiro, Maria Helena Silva, António Taborda e outros -, ao nascimento de "O Tempo e o modo" (1963) e às incidências do pós-25 de Abril, como dirigente da UDP. "Não me arrependo de nada do que fiz; encontrei gente muito boa em todo o lado. Depois, a política transformou-se num espectáculo onde se alojam demasiados interesses. O tempo da carolice acabou". Como exemplo de desapego pelos cargos, recorda o irmão, Fernando Brochado Coelho, já falecido, que foi dirigente distrital e nacional do PSD. "Nunca aceitou lugares, esteve na política pela política, embora com opções muito diferentes das minhas.".
Mário e Fernando partilharam o escritório e mantiveram sempre uma relação muito estreita, que surpreendia. "Unia-nos uma profunda amizade, apesar dos equívocos que aconteciam lá pelo escritório quando telefonavam dirigentes do PSD. Lembro-me de algumas vezes ter atendido o dr. Balsemão e de lhe dizer olhe que eu não sou ele, sou o outro...". O caso do assassínio do padre Max, que demorou 20 anos a ser julgado, é uma marca da extrema combatividade de Mário Brochado Coelho, um homem de olhar sereno e palavras tranquilas, agora mais longe do deputado municipal impetuoso e vibrante que, sobretudo, a cidade do Porto não vai nem pode esquecer.
Mário Brochado Coelho
Advogado
