John Locke, nascido em 1632, faleceu a 28 de Outubro de 1704. Três séculos após a sua morte, evocam-se aqui as actividades científicas do pensador inglês, pouco divulgadas quando em cotejo com a popularidade das suas propostas políticas.
Estudante em Oxford, John Locke cedo se envolveu nos debates filosóficos e científicos da época, prosseguindo estudos médicos com o fisiologista Thomas Willis, docente naquela vetusta universidade, entre 1660 e 1675, e um reputado conhecedor do sistema nervoso que tentava explicar o funcionamento do corpo por interacções químicas.
Por essa época, Locke colaborou com Robert Boyle, um dos fundadores da química moderna, com quem fez uma firme amizade, seguindo-o nas preocupações religiosas ao sustentar que o estudo científico da natureza era um dever dos crentes.
Instalado em Londres, o filósofo partilhou as suas investigações médicas com Thomas Sydenham, um eminente cientista médico, chamado "o Hipócrates Inglês" e considerado o fundador da medicina clínica.
Entretanto, o filósofo havia lido os Principia Mathematica..., de Newton, durante o seu exílio na Holanda e acabaria por se tornar amigo do génio inglês após o regresso à pátria, em 1688. Privou, entretanto, com os grandes mentores científicos da sua época e, juntamente com Boyle e Newton, ajudou a erguer a conceituada Royal Society, de Londres, verdadeira central da "Inteligência" europeia e planetária.
Dado à reflexão cosmológica, John Locke produziu breves, mas reveladoras abordagens, que o tornam um dos participantes activos nas especulações sobre o cosmos.
No capítulo III dos Elementos da Filosofia Natural, descreve a composição do nosso sistema solar de acordo com o modelo heliocêntrico e socorre-se das avaliações do astrónomo Christian Huygens sobre o número e distância das estrelas fixas em relação à Terra. Aqui, infere sem ambiguidades que "é mais apropriado à sabedoria, poder e grandeza de Deus, pensar que as estrelas fixas todas elas são sóis, dotados de sistemas planetários habitáveis movendo-se em torno deles".
Tal como outros espíritos, cultos e excelentes da sua época, também John Locke se devotou ao estudo da alquimia. A sua correspondência com Newton, além de tópicos que vão das órbitas dos planetas à Bíblia, está repleta de assuntos correspondentes à alquimia.
Locke foi, aliás, designado para inventariar o espólio manuscrito de Boyle, revelando a Newton dois manuscritos alquímicos encontrados entre os papéis do cientista. Há mesmo quem defenda que Locke retirou as ideias de "perfeição humana" e de "tábua rasa" do conceito de "matéria primeira".
Com Cyrano de Bergerac, Christian Huygens, Bernard de Fontenelle, entre outros, proponentes da tese da "pluralidade dos mundos", John Locke, o "filósofo da liberdade", subscreve também a doutrina da "grande cadeia do ser", segundo a qual existe um total continuum de existências, desde a mais simples forma de vida até à mais completa realização biológica, extensiva a entidades extraterrestres infinitamente mais dotadas do que as humanas.
* Historiador da Ciência, Universidade Fernando Pessoa
joaquim
fernandes *
