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Os seis reclusos que se evadiram anteontem da cadeia de Guimarães sequestraram e feriram três guardas prisionais e fizeram refém uma funcionária de uma empresa de catering (fornecimento de refeições). Entre os evadidos encontra -se um jovem de 17 anos conhecido por "China" - o suposto líder de um grupo que é apontado como responsável por centenas de assaltos na zona de Santo Tirso (ver texto em baixo). A fuga concretizou-se em 10/15 minutos, tendo os presos fugido armados com a pistola de um guarda, numa carrinha que já abandonaram. Até à hora do fecho desta edição, nenhum tinha sido recapturado.
Dos protagonistas da fuga, nenhum pode ser considerado muito perigoso, embora três estivessem presos por crimes violentos. Dois deles, irmãos, na casa dos 30 anos, estão detidos por assaltos à mão armada e um terceiro, de apenas 18 anos, aguarda julgamento em prisão preventiva por assaltos a casais de namorados, com alguma violência. Os restantes não têm cadastro por crimes violentos.
Por esta altura, existe já a convicção de que a fuga terá sido planeada. Tudo terá começado cerca das 19.15 horas, logo após o jantar, no primeiro piso, num corredor e junto à "porta amarela", que divide a zona prisional da área onde estão a enfermaria e os serviços administrativos. As celas estavam abertas, como é normal à hora de jantar.
Guardas dominados
Como de costume, um guarda estava colocado junto à "porta amarela" e um outro encontrava-se não muito longe, à porta da enfermaria. O primeiro foi o alvo escolhido. Um dos presos, presumivelmente o líder do grupo, encostou-lhe ao pescoço uma faca artesanal. O guarda ainda tentou fechar a porta, mas os restantes cinco, que já aguardavam do outro lado, impediram-no. Estavam armados com pernas metálicas de cadeiras.
Em segundos, o funcionário estava dominado e silenciado com uma camisola enfiada na boca. Foi golpeado - no hospital precisou de ser suturado com seis pontos e sofreu ainda um pequeno corte no pescoço.
O vigilante que estava à porta da enfermaria apercebeu-se, mesmo assim, do barulho e tentou intervir, mas acabou também com uma faca no pescoço. "Se gritas, mato-te. Corto-te já o pescoço", terá dito um dos fugitivos.
Meia dúzia de metros e alguns degraus abaixo, estava a portaria, onde se encontrava o terceiro guarda. Estava de costas. Antes de se aperceber do que estava a acontecer tinha já tinha a mesma faca atrás de uma orelha. "Ou me dás a arma ou mato-te". Era um aviso sério vindo de quem vinha e, portanto, obedeceu.
Ganhar tempo
Quando os fugitivos lhe pediram as chaves da portaria, que lhes daria acesso à rua, ainda tentou ganhar tempo, entregando a chave errada, mas apenas conseguiu provocar a fúria dos reclusos, que começavam a ver a sua acção comprometida.
Foi então que uma nova oportunidade se proporcionou, sendo de imediato aproveitada. Na portaria estavam as duas funcionárias da empresa de "catering" que fornece a prisão. Tinham acabado de chegar numa carrinha, para fazer uma entrega e estavam a preencher papelada. Uma delas foi de imediato feita refém e obrigada a entregar as chaves da viatura.
Salvo no limite
A presença das funcionárias, para além de ter proporcionado, involuntariamente, aos assaltantes o meio para a fuga, viria a ser providencial para um dos guardas, salvando-lhe muito provavelmente a vida.
Quando a mulher foi feita refém, o guarda tentou reagir para a proteger, mas um dos fugitivos apontou-lhe de imediato a pistola à cabeça. "Vou-te matar", gritou. Na confusão que ali se gerou, a mulher lançou-se ao pescoço do recluso, implorando-lhe que não disparasse e partisse sem fazer mal a ninguém. Fosse pelo facto de ter atendido ao pedido, ou simplesmente porque o tempo se estava a esgotar, o grupo meteu-se na carrinha da empresa e desapareceu.
A cerca de 500 metros do portão, apareceram na rua os termos com a comida. Sete quilómetros adiante foi recuperada a carrinha, vazia. Dos fugitivos nem sinal, apesar da operação policial que foi lançada de imediato, envolvendo PSP, GNR e Polícia Judiciária.
A noite terminou de forma tranquila para os restantes reclusos, que recolheram às celas.
* com Elsa Touceira