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Na carta ao Pai Natal, uma criança colombiana de sete anos não pediu brinquedos mas para conhecer o seu pai, um dos dois mais antigos reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colombia (FARC).
"Pedi ao Pai Natal que o meu pai seja libertado muito em breve e aos guerrilheiros que libertem todos os reféns para que eles estejam com as suas famílias e possam olhar as luzes de Natal", diz João, que só conhece o pai pelas fotos que aquele grupo de guerrilheiros envia à sua família para lhes provar que ele está vivo.
João é uma das muitas crianças colombianas que só conhecem os seus pais daquela maneira, através das fotos ou dos vídeos enviados pelas FARC que, segundo as autoridades, detêm cerca de 1600 reféns nas montanhas do país.
O pai de João, o cabo Líbio Martinez, foi detido pelas FARC, em Patascoy, pouco tempo antes dele nascer, em 21 de Dezembro de 1997.
Claudia Tulcan, mãe de João, diz que já não tem palavras para conseguir explicar ao filho as razões que levam o pai a não passar o Natal com ele. "Ele pergunta-me porque é que o pai não está connosco, no Natal, e eu só lhe consigo responder meu amor, o papá está detido como refém"; explica Claudia. Tal como João, Dainela, de 5 anos, recebe a ajuda da mãe para escrever a carta ao Pai Natal. Além do pai, diz que também quer uma Barbie. O seu pai, Juan Carlos Narvaez, é um dos doze deputados do departamento de Valle feitos reféns pelas FARC, em 11 de Abril de 2002.
"Ela trinha três anos quando levaram Juan Carlos. As suas primeiras lembranças são as de um pai feito refém, que lhe manda mensagens através do vídeo. Ela vê as famílias reunidas no Natal, preparando o jantar, os presentes, as férias... mas nós não fazemos isso", explica a mãe de Daniela, Fabíola Perdomo, que defende uma troca humanitária entre guerrilheiros prisioneiros e reféns na guerrilha. "Eles não matam as pessoas, mas não os deixam viver mais", diz Fabíola.
Há uma semana, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, lançou o ultimato à guerrilha ele autorizará a extradição para os EUA de Simon Trinidad, um dos responsáveis pelas FARC, actualmente preso, se forem libertados, até ao próximo dia 30, 63 reféns dos rebeldes - 59 colombianos, três norte-americanos e um alemão.
A franco-colombiana Ingrid Betancourt, antiga candidata pelos Verdes a presidente da República, detida há três anos, figura naquela lista de sequestrados.