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Alexandra Lopes
A fé move montanhas. Este ditado ilustra a devoção que as pessoas expressam à "irmã" Maria Teresa que se encontra sepultada no cemitério da freguesia de Delães, em Vila Nova de Famalicão. A quem entra no cemitério não passará despercebido um jazigo que se distingue dos restantes. Trata-se de uma capela, onde está sepultada a "irmã" Maria Teresa, onde quem desejar pode exprimir a sua devoção.
Ao entrarmos o silêncio é total. Uma sepultura com tampa de vidro acolhe o cadáver de uma mulher - a "irmã" Maria Teresa - que supostamente viveu no século passado e, cujo corpo não se decompôs. Alguns minutos a observar os devotos entram, cumprem a sua orações e promessas e acendem velas. A envolvência é de culto.
Asseada e devidamente arranjada com flores e plantas, nas paredes da capela podemos observar um caixilho relembra uma notícia datada de 1960, publicada num jornal de então. Relata-se o momento em que foi encontrado o cadáver de Maria Teresa.
Considerada santa pelos seus devotos, o corpo da "irmã" Maria Tereza foi encontrado "incorrupto" no início doas anos 60, aquando da demolição da antiga igreja paroquial de Delães.
Uns pedem graças que dizem terem sido atendidas, outros acreditam, mas dizem não ter pedido qualquer milagre. Contudo, o certo é que ao referirem-se à "irmã" Maria Tereza chamam-na de "santa".
"Ai a minha santinha. Não há-de ser santa porquê?", atira Maria José quando questionada sobre o facto da "irmã" Maria Tereza não ser considerada "Santa" pela Igreja Católica. "Cada um tem a sua fé e para mim é santa", diz, peremptória.
Maria José reside em Delães e, pede frequentemente "graças" à "irmã". "A mim já me concedeu algumas graças que lhe pedi", refere já com a emoção a vir ao de cima. E continua, já comovida "É uma grande santa. Há muitas pessoas que a veneram e, se há excursões que vêm de longe para a ver, então é porque faz milagres", adianta.
A devoção de Maria José não é o único testemunho e, há mesmo quem tenha por rotina acorrer à capela da "irmã" Maria Tereza. "Todos os sábados cá venho", diz outra senhora. "Já lhe pedi milagres e ela fez", afirma Maria Pacheco. Esta devota também reside em Delães e, para cumprir a sua promessa esteve durante algum tempo responsável por enfeitar a capela. "Agora está a minha filha", atenta. Além de flores e plantas que rodeiam a sepultura, a capela dispões de velas que os crentes podem utilizar, possuindo ainda um altar. "Nesta capela repoisam os restos mortais de Maria Tereza de Azevedo Carvalho, nascida no Casal de Gavim, desta freguesia, no ano de 1798. Faleceu a 22 de Fevereiro de 1879, tendo sido trasladada para este cemitério a 31 de Maio de 1960, pela ocasião da demolição da antiga igreja onde foi encontrada". Assim se lê num dos quadros que se encontram nas paredes da capela. Ao lado, um outro exibe o excerto de uma notícia publicada, na altura em que o corpo foi encontrado. Já do lado oposto estão fotografias do momento da trasladação, que ao que consta terá trazido muita gente à freguesia. Hermínia Barros viveu estes momentos. "Vi quando o corpo foi encontrado", relata esta emigrante, que segundo afirma, quando vem a Portugal não passa sem visitar a capela da "irmã" Maria Tereza. "Para mim é como se fosse uma santa como outro qualquer outro", explica dizendo que lhe pede graças como aos restantes. A juntar a estes testemunhos de devoção estarão os de muitas outras pessoas, que segundo narram os populares acorrem à capela da "irmã" Maria Tereza vindos de longe. "Ainda aqui há uns tempos chegou um autocarro cheio de gente, que estiveram aqui em fila para ir à capela", diz um outro popular, apontando que "se vêm cá por alguma coisa deve ser". Mas, não se pense que a devoção cabe apenas aos mais velhos. Sónia Almeida com 18 anos de idade acendia uma vela à "irmã" Maria Tereza quando foi abordada pela reportagem do JN. "Muita coisa me leva a acreditar. Tem-me ajudado e para mim é uma santa", diz, explicando que começou a ser devota há relativamente pouco tempo. Contudo diz acorrer à capela muitas vezes. A capela da "irmã"Maria Tereza está entregue à responsabilidade da Comissão Frabriqueira de Delães, que zela pelo espaço. Usualmente, os populares fazem as limpezas e enfeitam, zelando assim pelo espaço como cumprimento das promessas que fazem. "Temos tido sempre muita ajuda e apoio por parte das pessoas", aponta Ana Maria Cunha da Comissão Fabriqueira.