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"Era um puto espectacular. Um pouco introvertido, ainda hoje continua a ser e só queria era bola. Desde que tivesse uma bola nas mãos estava maravilhado. Mesmo quando decorriam os treinos, ele ficava do lado de fora e não se importava desde que lhe déssemos uma bola para fazer malabarismos".
A frase pertence a Luís Neves, vice-presidente para o futebol juvenil do Real de Massamá, que acompanhou desde os primeiros passos a carreira do mais recente prodígio leonino e que se tornou num dos melhores amigos do atleta que hoje cumpre 20 anos.
Começou para o futebol no Real de Massamá, clube da zona da Amadora, nos arredores de Lisboa, onde acompanhava o irmão mais velho aos treinos e onde chegou a jogar com Ricardo Vaz Tê. Tinha apenas 9 anos e não podia ainda ser inscrito, por isso ficava a ver e a brincar com o esférico. Introvertido, tímido mas completamente liberto ao pé de uma bola é assim que é definido o menino Luís Carlos Almeida da Cunha, que nasceu em Cabo Verde e mede 1,75 m, pesa 66 kg e é uma das maiores promessas do futebol português.
A estatura deu muito trabalho a criar e, desde os 10 anos, quando entrou para os iniciados, até há três anos, quando em 2003/2004 cumpriu a primeira época nos juniores do Sporting o trabalho foi intenso.
"Quando era infantil, agarrava na bola e fintava toda a gente. Quando passou para infantis de 11 quebrou um pouco, porque a parte física aí já era importante e ele era muito frágil. Nesse momento o Real não o podia trabalhar fisicamente, porque não tinha ginásio próprio. Foi trabalhado dentro do campo por técnicos competentes que sempre acreditaram no Nani. Desde que ele começou como infantil de 2.º ano, começámos a conversar com vários clubes, entre eles o Sporting e houve vários conselhos ao longo dos anos por parte do clube", explicou.
Curioso é que houve quem não acreditasse nas qualidades do jogador e o quisesse dispensar. "Alguns treinadores não acreditavam nele. Houve mesmo um que me garantiu que ele não se encaixava no perfil e queria dispensá-lo. Respondi-lhe que era louco".
Solidário e amigo. Este são outros traços encontrados na personalidade do jovem pelo dirigente. "Ele continua a ir ao Real, continua a ter alguns trabalhos connosco no sentido de falar com os miúdos e muitos deles são apoiados por ele na progressão da carreira"
Cresceu na Cova da Moura, ficou-lhe o gosto por música africana - kizomba é a preferida -, diz de si mesmo ser bastante teimoso, meigo, não ser supersticioso e adorar boxers. Não tolera faltas de respeito, é poupadinho, adora feijoada e picanha e se não fosse jogador seria professor de educação física.
A rápida ascensão e afirmação no plantel principal do Sporting acabou por surpreender quem o segue mais de perto, mas a ambição de igualar Deco e Ronaldinho Gaúcho - os seus jogadores preferidos na actualidade -, levaram-no a juntar trabalho árduo ao talento.
No processo, sobretudo na formação do homem, os conselhos de Paulo Bento têm sido de capital importância.
"Nunca pensei que a ascensão dele fosse tão rápida, mas se continuar assim será um dos melhores do mundo, se continuar a ser humilde e mantiver a capacidade de sacrifício. É outro Cristiano Ronaldo. Foi tudo muito rápido e não é fácil. Aparecem os grandes clubes, os empresários e ai ele vai ter de distinguir os amigos. Os recados do Paulo Bento têm sido muito bem dados. Para um menino que nunca teve uma bicicleta, não é fácil ter um BMW", explicou o amigo. De facto já não tem o Mercedes com que sonhou durante anos. Tem agora um BMW topo de gama.
