O calendário marca hoje a sequência de números que representa a máxima imperfeição para a tradição cristã. O 666, ou o nome da besta, como é referido no Apocalipse, volta a surgir mil anos depois dando origem a algumas manifestações supersticiosas.
Um pouco por todo o mundo, satanistas e bruxos organizam concentrações. Na Holanda, os cartórios ficaram cheios de pedidos para casamentos nessa data. Em Amesterdão, um casal chegou a pedir para casar nos primeiros seis minutos do dia, mas não conseguiu autorização.
A referência aos três algarismos surge num texto do Apocalipse, onde a numerologia é frequente.
"Quem tiver inteligência, calcule o número da fera, porque é o número de um homem, e esse número é seiscentos e sessenta e seis".
A leitura deste trecho foi desde sempre utilizada para "encontrar" o nome da besta. Alguns textos católicos e historiadores defendem que o 666 se relacione com Nero César. Isto porque o latim, o grego e o hebraico usavam letras como números. Logo, trocando as letras pelos números consegue-se chegar ao 666.
Foi o que muitos tentaram ao longo dos tempos. Leon Tolstoi, em "Guerra e Paz", associa o número a Napoleão, mas Lutero, Calvino e Hitler também não escaparam a esta matemática dos números. Mais recentemente, Bill Gates, dono da Microsoft, passou a integrar a lista daqueles cujo nome dá 666.
"Fantasias e superstições. O capítulo 13 do Apocalipse é utilizado por muitos para muitas coisas", responde o padre Carreira das Neves, a esta data apocalíptica. "Trata-se de uma questão de medos. A sociedade deixou de acreditar na política, na ciência e nas igrejas e procura no esoterismo algo em que acreditar, e faz isso com o 666, que é o máximo da imperfeição, do diabo, enquanto o sete representa a perfeição".
Sem querer adiantar uma explicação para o fenómeno - "só um sociólogo o poderá fazer" -, o padre sublinha "andam todos com medo e cada um interpreta o texto à sua maneira".
Virgínia Alves
