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Tuning é uma palavra que os habituamos associar a mau gosto ou a fenómenos de marginalidade. O filme "Velocidade furiosa" deu visibilidade aos carros modificados, mas colou-os às street race (corridas de rua). "Foi mau. Muito mau. Parece que toda a gente nos passou a encarar como potenciais assassinos ao volante. Mesmo agora, basta haver um acidente no IC1 [A28], para durante uma semana não podermos sair com os carros. Tudo porque queremos andar em carros diferentes", sublinhou Miguel Rocha, presidente do Clube Tuning de Matosinhos.
A expressão "tuning" ganhou força nos Estados Unidos, após a Segunda Guerra Mundial, quando milhares de jovens soldados que voltavam a casa com algum dinheiro, encontraram carros da década anterior a preços acessíveis. As mecânicas ultrapassadas dos veículos mais não fizeram que aguçar o engenho e começaram as transformações.
"Comecei por ser um adepto do tuning, transformando um Opel Tigra. Queria evoluir, mas no Porto não encontrava peças, o que me levou a lançar no negócio de venda de peças e preparação de veículos. Mas isto já esteve melhor", reconheceu David Ferreira, da SPK.
Só de reboque
Na oficina, um Hyundai Lantra sofria uma transformação radical, com um aileron de Subaru Impreza, o pára-choques frontal de um Ford Focus, que irá ser encimado por faróis de um Seat Leon, entre muitas outras alterações. "Já não se usa muito este tipo de tuning, até por causa da Polícia. Mas este carro só irá mesmo a exposições". E de reboque, acrescente-se, pois, ironicamente, a oficina fica em frente a uma esquadra da PSP.
Uma transformação destas poderá custar cerca de seis mil euros (incluindo o sistema de som, com dvd, televisão e bluetooth), mas por dois mil euros já se consegue fazer um carro diferente e discreto.
Estética de motor
Miguel Rocha, presidente do Clube Tuning de Matosinhos (CTM), e aluno finalista de Comércio Internacional, comprou, em 2001, o carro que gostava. Um Volkswagen Golf, comercial, que já ia no quarto dono e estava prestes a acabar na sucata.
"Primeiro restaurei-o e depois fui modificando-o aos poucos. Recorrendo a amigos, que me arranjavam materiais mais baratos, fazendo eu o máximo possível. Investi nele tanto do meu tempo que nunca o venderei", afirma Miguel Rocha, enquanto abre o capot e mostra o motor com um tratamento de "estética".
Sim, porque o motor também pode ser modificado sem alterar a potência de origem. Dando-lhe um aspecto limpo ("clean"), usando algumas peças cromados, uns toques de silicone, alumínio a tapar a chapa de origem. "Gosto de ter o motor apresentável", confessou Miguel Rocha.
Tuning que se preze não dispensa monitores, normalmente de quatro polegadas, seja para ver filmes, vídeoclips ou para um jogo na Playstation e um bom sistema de som. "Nem digo quanto aqui gastei", afirmou, enquanto mostrava a mala do Golf.
Apesar de menos "discreto" que outros carros do CTM, Miguel Rocha confessou nunca ter tido problemas com as autoridades. "Noto que muitos agentes já sabem distinguir entre um street racer e um tuner", referiu.
Faltará, apenas, a legalizar a actividade, algo que, obrigatoriamente, terá de ocorrer no próximo ano. "É uma pena que tudo seja tão lento neste país. Só fazemos as coisas quando somos obrigados. E Portugal terá de transpor a directiva comunitária nesta matéria até ao dia 29 de Abril do próximo ano", concluiu Miguel Rocha.