Os passes de dança fazem magia. As coreografias do grupo de dança "Puppets", na Escola do Lagarteiro,têm a assinatura de Francisco Almeida. Conhecido por Pako, cresceu no bairro do Cerco mas libertou-se e fez-se gente, coreógrafo de uma versão pessoal e transmissível do "American Dream". O sonho americano que sete estado-unidenses presenciaram, ontem, no Porto.
"Foi o ponto alto da visita", disse Jason Rohloff, quando o grupo se preparava para regressar ao hotel, depois da visita à escola do Lagarteiro, com cerca de 40 minutos de dança muito ao jeito da América da MTV. Era o fim da jornada, ao terceiro de cinco dias, no Porto. Ao abrigo do "German Marshal Fund of United States", a retribuição da Alemanha aos EUA, pelo apoio reconstrução da Europa, nos pós segunda Guerra Mundial. "O objectivo é fortalecer os laços transatlânticos, entre e americanos e europeus, para que não se repita o que aconteceu nos anos de 1930/40".
Como aos inimigos, convém conhecer os amigos. Em três dias, os sete americanos tocaram as várias faces da cultura e da vida portuense, desde o que se faz de mais inovador no Mundo às "ilhas" do Bonfim e ao bairro do Lagarteiro. "O Porto e Clevland têm os mesmo problemas. Perderam a principla indústria, nós o aço, vocês os têxteis, e enfretam o desemprego e os esvaziamento das cidades", comentou Keshia Johnson.
Entre problemas, os americanos vivenciaram as soluções em marcha, ao abrigo do "Programa Escolhas". O projecto "Arte na Rua, Pintar o Futuro" não é só para americano ver. A funcionar em parceria com o Clube Desportivo de Portugal (CDP), abrange as freguesias de Campanhã e Bonfim. Até 2009, pretende deitar mão a 260 pessoas, dos seis e os 24 anos.
"O objectivo é ajudar a colmatar as falhas das crianças ao nível curricular e proporcionar actividades depois das aulas", disse Maria Ermelinda Rocha, coordenadora do projecto, no Bonfim. "Uma zona muito marcada pelo desemprego, alcoolismo e absentismo escolar", acrescentou. "Há uma forte componente da cultura de rua", explicou Ana Paiva, técnica de artes performativas e tradutora de serviço.
Uma energia que nasce nas ruas, encanada para a dança, no bairro do Lagarteiro, por Francisco Almeida. Pako, o coreógrafo, cresceu no bairro do Cerco; é um exemplo a seguir e é seguido porque se deixa guiar pelos miúdos. "Faço as coreografias com as ideias deles", explicou. Os trejeitos hip-hop são a assinatura de marca, na dança e no dia-a-dia no Lagarteiro. "O hip-hop está a distanciar-se dessa imagem de marginalidade. Ao trabalhar com o que gostam, mostramos que para dançar é preciso regras, funcionar em conjunto, fazer exercício e trabalhar", explicou. "Percebem que só se consegue algo com esforço", acrescentou.
"Há muita gente que quer fazer coisas, mas desiste quando percebe que dá trabalho", explicou La Salete Lemos, técnica de acompanhamento do "Programa Escolhas", da zona Norte, onde se desenvolvem 38 projectos. "O facto de virem regularmente, é um sucesso", acrescentou Carolina Castro, a outra face da supervisão nortenha da iniciativa, desenvolvida com apoio financeiro do gabinente do ministro da Presidência, mas com parcerias privadas. "Se isto for bem feito, resulta", disse José Santos, do CDP, que cede as instalações ao projecto Arte na Rua. "Tira os miúdos dos maus caminhos e mostra-lhes que podem ter um futuro", acrescentou.
"Soum um exemplo disso, de que é possível ir além", disse Alfredo L. Hernandéz, procurador-geral ajunto do 2º distrio judicial de Denver, Colorado. "Cresci num bairro do leste de Los Angeles", uma espécie de Lagarteiro ou de Cerco, que não cerceou o sonho deste hispânico norte-americano, que dá a cara por um projecto de solidariedade social junto de pessoas que cometem crimes relaccionados com a droga.
