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A s notícias sobre o futuro do antigo Mercado Ferreira Borges são animadoras no que à questão dos equipamentos da cidade se refere. É caso para festejar! É que o pacote camarário para alienação do património municipal considerado improdutivo, incluía este velho edifício, salvo por classificação como "monumento nacional" há 30 anos. Dá, pelo menos, para respirar um pouco e para esperar que o sentido do decoro tenha começado a impor aos governantes um pouco de bom-senso na forma como lidam com o património que é de todos. Embora desconfiados - e com razões de sobra para isso - os cidadãos da região do Porto parecem ter, assim, uma dor de cabeça a menos. Há dias de sorte!
Sobre o Ferreira Borges, sabia-se o que se sabia em relação aos outros mercados e equipamentos municipais que constavam da lista de alienações a favor de privados por dezenas de anos. Os concursos para as referidas alienações ou já foram lançados e tiveram o seu epílogo como nos casos do próprio Ferreira Borges, do Bolhão e da Praça de Lisboa e outros aguardam, ainda, saber da sorte que lhes vai calhar. No entanto, os concursos já realizados, pautam-se por um generalizado desinteresse da "praça". De facto, e seja por que razão for, o "mercado" não tem primado pela animação! Em regra, não tem aparecido mais do que um concorrente por cada concurso, o que deixa sérias dúvidas quanto à bondade da iniciativa ou, então, a certeza de que o produto não é lá muito aliciante. Estranha, sim, é a passividade da entidade promotora que, não se tem questionado sobre este singular resultado. É que, regra geral, quando as coisas são assim, é do mais elementar bom senso, tudo fazer para, dentro das normas legais, "retirar de praça" a peça que desperta pouco ou nenhum interesse e esperar por melhor oportunidade ou, então, fazer com outras um pacote mais apelativo, já que, alienar a qualquer preço é a mais errada das políticas! È que, se um responsável político local, utilizou, recentemente, como argumento para a alienação dos equipamentos municipais, a incompetência da Câmara para os gerir e a procura de "quem saiba do assunto", será caso para aconselhar esse mesmo político a não se meter a fazer o que, pelos vistos, também não sabe fazer, ou seja, ? concursos públicos! Porque a verdade é que não há verdadeiro mercado quando só há um "vendedor" e um só "comprador" porque, neste caso, o mais certo é que o negócio seja mau!
Em todo o caso, o jornal "Publico" do passado domingo, desvendava o que a própria autarquia não tinha ainda deixado ver sobre o que vai passar-se no Ferreira Borges. Este gosto pelo secretismo não deixa de ser intrigante e chega mesmo a ser doentio! É que não se encontra explicação plausível para a já habitual sonegação de informação sobre o que se pensa fazer, o que vai passar-se e qual o resultado que é legítimo esperar. É que, em matéria de coisa pública, a boa regra é exactamente a inversa da coisa privada, ou seja, o segredo não é a alma do negócio e pode mesmo ser a sua morte. Neste caso, porém, a sorte parece ter batido à porta da cidade e a crer nos detalhes dados à estampa pelo "Público", o programa e o projecto para o Ferreira Borges, parece merecerem boa nota. Em resumo, pode dizer-se que se salva o monumento, se anima a praça e se melhoram as condições de "regresso à Baixa". Oxalá não haja desilusão!