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Helena Silva
Tristeza e revolta eram os sentimentos estampados nos rostos e nas palavras dos familiares das duas vítimas mortais, Maria dos Anjos, de 17 anos, e Leontina Custódio, de 45 anos, que residiam, respectivamente, na Adémia e em Torre de Vilela, concelho de Coimbra.
Luís Carvalho, tio de Maria dos Anjos, estava quase em estado de choque, pois fazia parte do grupo de peregrinos e viu o atropelamento mesmo à sua frente. "Eu ainda disse: 'fujam'", recorda Luís, mas "o carro vinha a grande velocidade". "Ouvi um estoiro e vi as pessoas todas no chão, cheias de sangue. Fiquei sozinho no meio daquela confusão", conta o tio de Maria dos Anjos. "Mas que mal é que fizemos? Só a mim é que acontece uma coisa destas", diz Luís Carvalho, numa mistura de revolta e desolação.
Maria dos An jos morava com os pais e a avó e tinha saído de casa na noite de sexta-feira para sábado, na companhia do grupos de peregrinos, para cumprir uma promessa.
Nesse grupo ia também a outra vítima mortal, Leontina Custódio. "Ela nem queria ir. Não havia nenhuma promessa", recorda o marido, António Figueiredo. Leontina foi acompanhar a nora, Mónica Figueiredo, também atropelada e em estado grave.
António Figueiredo também acompanhava os peregrinos mas não viu o acidente, porque o seu carro tinha avariado e estava a tratar do reboque. Quando regressou ao local e viu as ambulâncias sentiu "um aperto no coração". "Alguma coisa estava mal", recorda. Com dois filhos maiores, António e Leontina estavam casados há 27 anos.
Joaquim Almeida
Tristeza e revolta em Torre de Vilela e Adémia
Seis peregrinos, oriundos de Coimbra, foram colhidos por um automóvel que se pôs em fuga, ontem de madrugada, quando caminhavam em direcção ao santuário de Fátima. Duas pessoas morreram e outras duas ficaram gravemente feridas. Os ocupantes da viatura, ucranianos, foram apanhados horas depois e presentes a tribunal, onde deverão voltar hoje.
O sinistro ocorreu cerca das 3.30 horas, no IC2. O grupo de peregrinos seguia na berma da estrada, numa zona conhecida como a "Descida das Leais", a cerca de quatro quilómetros de Pombal. O automóvel, que circulava em direcção a Pombal, terá saído da faixa de rodagem, embatendo contra alguns dos peregrinos. O condutor não parou, mas um dos elementos do grupo conseguiu memorizar a matrícula, o que auxiliou a GNR a localizar a viatura.
Uma das vítimas, uma jovem de 17 anos, teve morte imediata. Outras três pessoas, duas mulheres (uma de 45 e outra de 24 anos) e um homem de 29 anos foram conduzidos ao Hospital de Pombal, em estado considerado muito grave. A mais velha do grupo viria a falecer momentos depois de dar entrada na unidade hospitalar.
Os dois outros feridos acabaram por ser transferidos para o Hospital dos Covões, em Coimbra. Os Bombeiros de Pombal tiveram ainda que transportar ao hospital local outros dois peregrinos, dois homens de 44 e 54 anos, que se sentiram mal depois de terem presenciado o acidente. Um deles era tio da jovem que morreu.
A Brigada de Trânsito da GNR de Leiria foi chamada ao local. Uma patrulha, constituída por dois guardas, começou de imediato a tentar localizar o automóvel suspeito. O carro viria a ser encontrado a poucos quilómetros do local do acidente, abandonado numa estrada de terra batida, junto ao IC2. Um dos pneus tinha um furo, revelou a GNR.
Os guardas procuraram localizar, sem êxito, os ocupantes do automóvel. Chamaram um reboque e simularam abandonar o local, mantendo uma vigilância discreta. Assim que se aperceberam que o veículo iria ser rebocado, dois ucranianos apareceram a correr. Ainda tentaram fugir de novo, mas foram detidos e presentes a Tribunal.
Residentes em Pombal, com o processo de legalização a correr, os dois aguardam julgamento em liberdade sob termo de identidade e residência e prestarão novas declarações em tribunal hoje. Confessaram ser os proprietários do veículo do atropelamento e garantiram à GNR ser os seus únicos ocupantes. Segundo Carlos Costa, da BT de Leiria, o teste de alcoolemia acusou resultado positivo, mas as taxas não foram reveladas. A mesma fonte revelou que as autoridades apuraram que no veículo seguiam mais três imigrantes, identificados ontem à tarde.
Vítimas
Leontina Custódio, de 45 anos, era casada com António Figueiredo e residente em Torre de Vilela. Trabalhava num lar de idosos, em S. José, Coimbra.
Leontina
Custódio
Torre Vilela
Maria dos Anjos tinha 17 anos e morava na Adémia com os pais e uma avó. Estava a frequentar um curso profissional para assistente social.
Maria dos Anjos
Adémia
Um homem de 76 anos caiu anteontem num poço, por razões desconhecidas, e acabou por morrer.
