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Por trás das portas do número 216 da Avenida Dr. Lourenço Peixinho, em Aveiro, vive o pequeno Nicolau, um pinguim originário da África do Sul. Pequeno mas só de tamanho, já que o Nico, como lhe chama carinhosamente o dono, já conta com pelo menos 42 anos e pode viver até aos 75. Adora tomar banho de mangueira, mas detesta lagos e espaços com muita água. Comer é o momento preferido, sobretudo se o "prato do dia" for petinga, sardinha, faneca ou carapau.
Chegou à casa da família de António Barros ainda bebé, depois de ter sido pescado, ao largo da cidade do Cabo, pelo navio Ilha de S. Nicolau, que acabaria por lhe dar o nome, juntamente com mais sete pinguins. Seis foram entregues ao Zoo de Lisboa e acabaram por morrer meses depois.
"O meu tio era o comandante da embarcação, gostou do pinguim e resolveu levá-lo para casa. Uns tempos depois, e porque sabia que o meu pai adorava animais, perguntou-lhe se ele o queria. Juntou-se aos cães, gaivotas e faisões", conta António Barros, dono do Nicolau.
Os amigos pescadores
Durante muitos anos o Nicolau foi a estrela da antiga clínica da Vera Cruz, onde o pai de António Barros trabalhava como médico. "Havia um lago e puseram-no lá. Toda a gente lhe levava peixe e todos gostavam de o ver por lá", recorda. Quando a clínica fechou, o pinguim foi levado para a casa da avenida, onde mora até hoje com a família Barros.
E foi lá que o Nicolau conheceu a Beatriz, uma gaivota que vivia na casa de António Barros. "Tornaram-se amigos. Durante seis anos foi ela quem lhe fez companhia. Mas um dia, a Beatriz conseguiu fugir. Durante vários dias o Nicolau andou triste, notou-se que sentiu a falta dela", conta.
"Ele já passou várias gerações. Os meus avós conheceram-nos, os meus pais, eu e os meus irmãos, os nossos filhos e agora os netos. Toda a gente o adora, mas sou eu e o meu irmão mais novo quem se dedica ao Nicolau", afirma António Barros. E é com o irmão mais novo de António que o Nicolau passeia. "Quando sai para a rua, comporta-se melhor do que qualquer outro animal domesticado".
O dono do pinguim recorda o dia em que levou o Nicolau à lota para "conhecer os amigos". São os pescadores que lhe arranjam o peixe. Se não fosse assim, não se ganhava para o manter".
A Perdidos e Achados, uma instituição que defende e acolhe os animais, elogia a forma como Nicolau foi acolhido. "Ele é muito bem tratado, adaptou-se perfeitamente e só por isso vive há tantos anos. Não nos repudia que ele viva com uma família e certamente que está melhor lá do que no jardim zoológico", afirmou Isabel Segadães.
Mimos
Adaptação O Nicolau é um pinguim da África do Sul, habituado às temperaturas altas, daí que se tenha adaptado ao clima ameno de Aveiro. No Verão é que é necessário ter mais de cuidado por causa da desidra-tação, mas nada que um pouco de água a mais não resolva.
Peso e medida
Mede 45 centímetros e pesa apenas 2,5 quilos. A contribuir para a "boa linha" do Nico está o facto de só comer peixe fresco, cerca de meio quilo por dia. António Barros tem em casa uma arca congeladora só para o Nicolau, já que compra mais de 100 quilos de cada vez.
Medo
A solidão é o maior medo do Nicolau. Quando fica sozinho anda triste, mas basta uma ou outra "festinha" para ficar logo animado. O irmão mais novo de António Barros é quem disponibiliza mais tempo para as "conversas" com o pinguim.
