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"Para Rogério Ribeiro, pintar ou desenhar é como penetrar na mais espessa das trevas sabendo de antemão que ela se irá cerrar atrás de si. O seu pintar e o seu desenhar negam-se a pactuar com as persuasões mais ou menos retóricas de quem domina soberanamente as técnicas, antes são projecções ontológicas do seu espaço mental e sensível", escreve José Saramago no prefácio da monografia de Rogério Ribeiro que será lançada no próximo sábado, no Porto.
Simultaneamente, a galeria portuense Cordeiros, que também é responsável pela edição do livro, inaugurará uma exposição que integrará um número significativo de obras do pintor, muitas delas reproduzidas na obra que, na prática, funcionará como uma espécie de catálogo 'raisoné'.
Nome bastante conhecido e reconhecido no panorama das artes plásticas, Rogério Ribeiro, pintor e professor, actualmente com 76 anos tem, indiscutivelmente, um significativo percurso que evidencia disciplina, determinação, talento e muito trabalho. Só assim se justifica a múltipla obra que tem espalhada por todo o país e pelo estrangeiro, com predominância para o painel cerâmico "Azulejos para Santiago", no Metropolitano do Chile, na Casa de Portugal, na cidade universitária de Paris e o painel cerâmico para o Fórum Municipal Romeu Correia, em Almada.
A monografia agora editada, com cerca de 600 páginas e de autoria do jornalista Eduardo Paz Barroso e que incluiu, além do prefácio de Saramago, de textos de Mário Cláudio e Ana Isabel Ribeiro, é, para já, a mais completa e exaustiva publicação que existe sobre o artista. De excelente qualidade gráfica e com várias centenas de reproduções de obras concebidas nas mais diversas fases, principalmente ao longo das últimas décadas, o livro/monografia proporciona uma viagem à vida e fundamentalmente à obra de Rogério Ribeiro, desde a fase inicial onde vigora o neo-realismo, até aos dias de hoje onde predomina a representação, de grande poder narrativo.
Aqui está o que fez de melhor durante o seu intenso percurso artístico, resultado de muitas manhãs, tardes e noites no silêncio do atelier. Em desenhos, pinturas em tela ou em azulejos, Rogério Ribeiro reproduziu os imensos estados de alma que incorporou em sonhos, desejos, ambições e desilusões. Tudo isto cabe neste livro grande - mas pequeno para uma tão vasta obra criada por este homem de 76 anos que ainda hoje pinta entre sete a oito horas por dia.
"Pinto porque gosto, porque me dá prazer e porque é muito importante para mim, é como respirar. É fundamental o meu recolhimento no atelier e o acto de pintar. Muito importante", confidenciou o pintor.