Corpo do artigo
CCCP é algo que morreu há 15 anos. Certamente, já haverá gente a quem a sigla nada diz, porque deixou de ser visível e porque escrita num alfabeto diferente - o cirílico - para significar União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Da desagregação do gigante derrotado da Guerra Fria sobrou, num refeito mapa político, um outro gigante, a Federação Russa, país convertido ao capitalismo e governado num sistema a que chamam "democracia controlada".
A 8 de Dezembro de 1991, era claro o fracasso do comunismo e dos programas de Mikhail Gorbatchev para prolongar a viabilidade da União Soviética, os famosos Glasnost (transparência) e Perestroika (reestruturação). Naquele dia, os presidentes da Rússia, Bielorrússia e Ucrânia assinaram os acordos de Belavezha, que determinaram o desmembramento da URSS, estabelecendo a Comunidade de Estados Independentes. O desfecho foi confirmado no mês seguinte, quando todas as repúblicas, excepto a Geórgia, assinaram o Protocolo de Alma-Ata.
No espaço que era a URSS há, agora, 15 países independentes. À sombra da "mãe Rússia", a potência imperial que expandiu o território herdado pelos revolucionários bolcheviques de 1917. E persistem aí, com clareza, os traços de uma mentalidade dominadora. "A Rússia reconhece estas novas fronteiras, mas, psicologicamente, continuam sem existir", diz Fiodor Lukianov, da revista "Rússia na Política Mundial", citado pela France-Presse. E há outras formas de dominação. Como nota o historiador francês Laurent Rucker, "as elites russas, muito apegadas ao poder e aos símbolos do poder, procuram um caminho de adaptação à diminuição do espaço e da potência russa", o que fazem usando "mais meios de pressão do que de sedução".
Os principais meios de pressão chamam-se petróleo e gás natural. Antigas repúblicas com veleidades pró-ocidentais, como a Geórgia ou a Ucrânia, vivem sob a Espada de Dâmocles da dependência energética. Internamente, essa riqueza e esse poder não são, propriamente, parte de uma identidade nacional. São pasto de novas elites e sustento para o desenvolvimento de uma capital que tudo ofusca a taxa de crescimento de Moscovo está nos 7%, enquanto os confins do país estagnam ou regridem, em matéria de desenvolvimento e de direitos dos cidadãos. Quanto aos nacionais de antigas repúblicas soviéticas, antes unidos sob a bandeira vermelha, são agora imigrantes desprezados.
No poder há um partido, o Rússia Unida, que a alguns faz lembrar o velho PCUS, apenas pelo autoritarismo. No centro de tudo, Vladimir Putin e a possibilidade de mudar as regras do jogo, para que cumpra um terceiro mandato. Para o comum cidadão russo, que transitou do sistema feudal czarista para o totalitarismo comunista, a democracia é, afinal, um conceito difícil de assimilar.