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Hoje de madrugada, dezenas de milhar de pescadores portugueses, espanhóis, italianos e franceses terão deixado os barcos em terra e iniciado uma paralisação por tempo indeterminado contra o aumento dos combustíveis. O descontentamento com os efeitos da subida do petróleo alastra a cada dia que passa, com condutores, agricultores e camionistas de vários países europeus a levarem a cabo acções de protesto. A Comissão Europeia (CE) recusou ontem atribuir subsídios ao combustível, mas está a preparar uma estratégia para controlar os preços.
Em Portugal, a adesão à paralisação nas pescas será total, com as várias associações sindicais e patronais a comprometerem-se com a paragem. Por enquanto, não haverá protestos mais intensos, nomeadamente manifestações, mas essa possibilidade não é posta de parte. "Não está nada previsto. Demos um prazo de quatro a cinco dias para ver se há sensibilidade para as reivindicações dos pescadores. Caso não haja avanços, será inevitável partir para outras formas de luta", explicou ao JN Joaquim Piló, do Sindicato Livre dos Pescadores. Os armadores, por seu turno, optam por uma "postura construtiva". O presidente da Associação dos Armadores das Pescas Industriais, Miguel Cunha, garante que não há protestos agendados e que propôs ao Governo a criação de uma comissão representativa do sector para encontrar com a tutela linhas de acção, proposta esta que "ficou de ser analisada". Há também a intenção de criar "uma plataforma europeia do sector que pressione Bruxelas a tomar medidas excepcionais".
Noutros países europeus, a contestação está alastrar. Em França, os protestos arrastam-se há semanas e ontem os pescadores envolveram-se em confrontos com a polícia, numa manifestação. Houve ainda bloqueios a depósitos petrolíferos, uma acção também seguida por agricultores. Na Alemanha, os camionistas estão a organizar um "buzinão" contra os preços dos combustíveis. Os transportadores de mercadorias já se haviam manifestado na Bulgária e no Reino Unido.
Em reacção à turbulência, a CE pediu aos estados-membros que acelerem a reforma do sector. O comissário das Pescas, Joe Borg, quer que o auxílio de emergência seja utilizado o menos possível e por um prazo máximo de seis meses, e incentivou os países a reduzirem as frotas pesqueiras de acordo com as necessidades reais, a alterarem os motores das embarcações para sistemas que consumam menos e a alterarem o tipo de carburante que usam para navegar.
Bruxelas está receptiva a alterações aos planos estruturais do sector desde que seja restruturação do sector pesqueiro. A presidência eslovena da UE decidiu ontem pedir à CE que apresente uma "proposta concreta" para conter os efeitos da escalada do preço do petróleo na economia europeia, na sequência de um pedido semelhante do ministro português da Economia. Manuel Pinho não revelou, no entanto, que tipo de "proposta concreta" espera que saia das futuras discussões dos 27.