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A primeira impressão do presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática ao olhar para a prova de aferição do 6.º ano à disciplina foi a de classificar o "teste de uma simplicidade infantil, com muito pouco a ver com a Matemática". Analisou-o durante algum tempo e depois concluiu "Tem um exagero de visual e de comunicação matemática e poucos exemplos de aplicação de algoritmos. As contas são ridiculamente fáceis, ainda mais se pensarmos que a calculadora é permitida na prova". Nuno Crato escusou-se a relacionar o facilitismo da prova aos maus resultados do ano passado - um em cada seis alunos do 6.º ano tiveram negativa e o Governo alargou o Plano de Acção para a Matemática do 3.º para o 2.º ciclo.
"Não vejo como uma prova assim pode testar o estado do ensino", acabou por reconhecer, considerando também que a prova do ano passado "já era bastante fácil". O objectivo das provas de aferição para o Ministério da Educação é, recorde-se, o de testar o "estado do sistema de ensino".
Mais de 230 mil alunos dos 4.º e 6.º ano fizeram ontem a prova de aferição a Matemática em todas as escolas de ensino básico do país. A prova de Língua Portuguesa foi feita na sexta-feira.
O professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) defende um sistema de avaliação "mais claro" e assente em mais exames (ler texto ao lado). "Com tudo isto estamos a fazer apenas aferições e mal". Para Nuno Crato, o actual modelo das provas de aferição a Matemática peca por testar demasiado as capacidades de interpretação e análise visual dos exercícios e não os conceitos de algoritmos. Ou seja, sublinhou, "um bom desempenho neste teste não significa um necessário bom conhecimento das matérias".
Há, no entanto, alguns aspectos positivos, frisou "A prova deste ano é menos palavrosa e mais directa. Não tem sentido um teste de Matemática andar com floreados. Depois, tinha muitos exemplos engraçados" para os miúdos.
A reacção dos alunos à saída das escolas parecia confirmar a análise do presidente da SPM contentes e desanuviados, livres de um enorme peso que os atormentava. Foram vários os pais e miúdos que admitiram ao JN as dores de barriga, falta de apetite e insónias que atacou muitos alunos na última semana.