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Éevidente que é só um partido. Enfraquecido. Pálida sombra do que foi. Mas é ainda o maior partido da Oposição, o maior partido autárquico, e o partido com mais maiorias absolutas, na história constitucional da terceira república.
Continua a ser, para muitos, o partido onde a disputa entre ideias de governo, princípios programáticos, percursos pessoais, é mais viva, intensa e interessante.
Continua a ser uma espécie de caleidoscópio do "país político". Envolve sociais-democratas e populistas, cristãos e agnósticos, clericais e anticlericais, libertários e estatizantes, internacionalistas e nacionalistas, justicialistas e liberais, centralizadores e autonomistas, reformadores, conservadores e tradicionalistas. E até republicanos e monárquicos.
É o PSD, ou PPD/PSD, como diz Santana Lopes.
Com todo o respeito e consideração por Patinha Antão, há só três candidatos com hipóteses de ganhar o partido. São os outros.
Mas os outros têm problemas. A começar pelo passado.
Pedro Passos Coelho foi líder da JSD. No entanto, não conseguiu criar, na juventude, as sementes de uma revolução cultural. A falta desta levou, entre outros elementos, à vitória de Guterres e de Sócrates, só interrompida pelos anómalos (dir-se-ia quase interinos) governos de Durão e Santana.
Manuela Ferreira Leite foi responsável pela Educação e pelas Finanças. Mas não conseguiu eliminar a degradação da primeira, nem conseguiu gerar consenso, na forma de sanear o Orçamento do Estado.
Pedro Santana Lopes foi primeiro-ministro. Mas, apesar da presença de um colega de partido à frente da Europa, e apesar da boa figura do campeonato continental de futebol, naufragou em poucos meses.
Claro que um copo meio vazio está sempre meio cheio.
Passos Coelho presidiu a uma juventude laranja, na altura maioritária, vencedora e pujante. Poderá dizer que o que faltou foi continuação do seu trabalho.
Ferreira Leite ousou disciplinar a educação e disciplinar o défice. Falou em reformas incómodas, antes de se falar de reformas custosas. Pode dizer que o que faltou foi a continuação do seu trabalho.
Santana Lopes planeou um governo de justiça social. Pode dizer que o que faltou foi a continuação do seu trabalho. Nalguns ministérios, no parlamento, e sobretudo em Belém.
Os três candidatos foram bem sucedidos só em pequenas áreas parte da juventude, parte da decisão política, parte do país. Mas disputaram algumas batalhas sérias, e não as perderam todas.
Faz tudo parte da sua história.
Só precisam agora, verificados os resultados, de os aceitar, e de planear o mais importante. Isto é como mudar o país, desfazendo o que este governo fez de mal, e mantendo o que praticou de bem.
Podem já não ir a tempo, mas é imperdoável que não o tentem fazer.
Nuno Rogeiro escreve no JN, semanalmente, às sextas-feiras