Corpo do artigo
Quem vem e atravessa o rio junto à Serra do Pilar não deixa de reparar nas antenas que marcam a paisagem. Numa altura em que se discute o futuro da RTPN, muitas são as posições e opiniões sobre o que fazer do "canal público" que emite no cabo.
Se o político Luís Campos Ferreira defende "a privatização total do canal", já o crítico de televisão Eduardo Cintra Torres é da opinião que "deveria ser um canal do Porto feito no Porto porque há dinâmica suficiente na região para dinamizar o canal". Se o professor universitário na área dos média, Manuel Pinto, prefere falar numa "informação Lisboacêntrica", estranhando que a "informação esteja sediada apenas num sítio", o psicólogo Jorge Silvério não quer "ouvir falar em guerras Norte-Sul".
Professor universitário e presidente da subcomissão parlamentar que lida com as questões da Comunicação Social, Campos Ferreira lembra que "a RTPN está a usufruir de bens públicos acabando por fazer concorrência desleal".
Por isso, "deve ser colocada no mercado e privatizada". Deixando para as plataformas digitais a criação de canais regionais próprios. O professor universitário lembra que "a RTPN não está classificada no universo editorial da RTP e isso é uma lacuna".
O crítico de televisão Eduardo Cintra Torres vai ainda mais longe "A RTP desvirtuou a RTPN transformando-a naquilo que não é: um canal de notícias. Que serviço público é este que cria um canal para fazer concorrência a um outro que já existe?".
Para o especialista em questões televisivas, "a única vantagem que a RTPN tinha, ser feita no Porto, está a ser assassinada", preconizando por isso, "um canal feito no Porto que dá um ponto de vista diferente, que, por estar longe do poder político, estaria mais inume às pressões politicas".
Como espectador, Manuel Pinto, professor da Universidade do Minho (UM) e investigador na área dos média, prefere "uma informação equilibrada na diversidade e não Lisboacêntrica, com 95% das notícias sediadas no universo da capital. Acho que se deveriam introduzir critérios de equilíbrios territoriais".
Também professor na Universidade do Minho, mas na área da psicologia do desporto, Jorge Silvério teme que "esta centralização de muita coisa e de muitos sectores, que obriga a quem queira progredir na carreira a ir para Lisboa, seja cada vez mais uma realidade".
Sublinha que não quer encarar esta centralização resultado de uma guerra Norte/Sul.
Evoca o passado, para traçar outro figurino "A televisão no Porto tem produzido jornalistas de boa qualidade e esta escola tem contribuído também para o desenvolvimento da região e eu temo que isto se perca".
Dá como exemplo os nomes Judite Sousa, José Alberto Carvalho, Carlos Daniel, Júlio Magalhães.
Que futuro para o canal
de notícias do universo da estação pública?
A RTPN vai ter o seu futuro definido na "rentrée". A administração da estação pública já fez saber que o perfil do canal está a ser redesenhado e, desde esse anúncio, não páram de se ouvir vozes a contestar a hipótese de o canal perder a sua ligação ao Norte, uma vez que o projecto, segundo os responsáveis da RTP foram anunciando, prevê que a edição nocturna passe a ser assegurada de Lisboa. Uma aproximação ao modelo da SIC Notícias poderá implicar, segundo os que têm contestado esta tipo de mudança, um "esvaziamento" da RTP-Porto. Apesar de a hipótese polémica ter sido acompanhada pelo anúncio de investimento num novo estúdio de informação no Porto, alguns políticos da ala PS do Norte já vieram a público mostrar desconfiança a respeito da intenção última da administração.
Facto é que esta estação já deixou a sua componente mais local na altura em que se transformou em canal de notícias do universo RTP. Foi antes disso NTV. A RTPN foi criada a 31 de Maio de 2004, assumindo-se como canal de informação que procurava estar próxima das regiões.