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regresso, esta noite, da telenovela ao horário nobre da estação pública, passados seis anos -"Senhora das Águas" foi a última - tem sido motivo de reacções de desagrado. "Paixões Proibidas", uma co-produção entre a RTP e a TV Bandeirantes brasileira, ontem apresentada por Nuno Santos, director de Programas da estação, que conta no elenco com Virgílio Castelo e São José Correia, estreia às 21 horas.
Por parte da concorrência, sobre a hipótese de a RTP apresentar novelas em horário nobre, José Eduardo Moniz, disse, a 15 de Dezembro, que a "única palavra" que podia usar sobre a investida era "escândalo". O director-geral da TVI lembrou que "depois de todas as críticas que têm vindo a ser feitas ao longo dos anos, em que se apontou a falta de diversidade em determinado tipo de ficção nacional, vem agora a RTP produzir novelas em horário nobre". Sublinhou "Ainda por cima, sob a capa de co-produções, que de co-produções nada têm".
Já o director da estação de Carnaxide, Francisco Penim, reagiu ontem de forma contida "O director de Programas do serviço público pode e deve fazer o que bem entende com a sua grelha".
Mas quem também contesta esta opção estratégica é o professor universitário Rui Cádima, autor do blog "Irreal TV". Rui Cádima salientou o facto "desta novela surgir numa altura bastante crítica em relação à oferta televisiva dos privados". Explicou "A RTP em vez de se demarcar desse 'prime time' dos privados e fazer uma oferta qualitativamente diferenciada, distinta, acaba por oferecer o mesmo género televisivo, apesar desta poder ter características de serviço público por se tratar de uma novela de época". "Paixões Proibidas" junta no mesmo guião três obras de Camilo Castelo Branco.
Já Felisbela Lopes, investigadora na área dos media, ressalvou que, por se tratar de uma adaptação de textos literários, tem alguma expectativa positiva. "Há sempre a hipótese de a RTP, dentro de uma aposta no género, poder fazer a diferença".
A investigadora assinala, no entanto, que a novela deverá ser "programada para uma franja horária mais tardia, se tiver as tais cenas mais ousadas". Aproveita ainda para assinalar que "a linha de programação lançada na segunda metade de 2006 pela RTP assenta numa grelha de informação diversificada ao longo da semana, que não existe nos canais privados".
Rui Cádima colocou a tónica no facto de a RTP já ter um excesso de programas de "fidelização horizontal da audiência (programa que existe no mesmo horário). O professor salientou que "com a emissão da telenovela vai acontecer uma situação idêntica". Consequência? "Irá fazer-se o esmagamento dos espaços da grelha, acabando por não sobrar espaço - neste horário fundamental para os espectadores - para a diversidade de programação que traga também algum conhecimento, cultura, que não existe na RTP".
* com Ricardo Paz Barroso