Corpo do artigo
No passado dia 28 de Abril assisti a uma reunião da Assembleia Municipal de Aveiro. O meu propósito era saber o que os partidos e a câmara pensavam acerca da execução de "uma via turística marginal ligando Aveiro e Ílhavo". Bem, assisti a tudo menos à apresentação e debate do caso.
Assisti a alguns desmandos populistas e outros que nem isso chegavam a ser eram só... desmandos, disparates, despropósitos. Assisti, também, à exposição tecnicamente qualificada de Teresa Fidelis; à intervenção politicamente avisada de Raul Martins, ao alerta político (parcialmente) oportuno do presidente da Junta de Freguesia de Cacia e à postura de grande seriedade e franqueza do presidente da câmara.
Tenho para mim que de uma forma muitíssimo mais barata, um órgão essencial à democracia, poderia ter produzido muito mais. Suponho até - desculpar-me-ão o atrevimento - que um tal órgão poderia, de facto, produzir algo de muito mais útil.
Sabendo o que fizeram à questão mais recorrentemente abordada na dita Assembleia - a Pista de Remo do Rio Novo do Príncipe -, e temendo que o mesmo possa acontecer com a que agora se propõem tratar - a via marginal Aveiro-Ílhavo -, acho que, de momento, o que mais importa é procurar "salvar" esta última de tais tratos de polé senão vejamos.
No primeiro caso, o que agora dizem (alguns d)os embaraçados pela obvia inoportunidade deste investimento desportivo, é que a Pista de Remo sempre foi, de facto e apenas, um pretexto ou um subproduto de um projecto cuja verdadeira razão de ser, mérito e urgência é a defesa da agricultura do Baixo-Vouga lagunar. Esperemos que no segundo caso - o da estrada marginal -, e uma vez que o projecto ainda não existe e também ainda não existem nem ditos, nem compromissos populistas, despropositados e irrealistas, seja, também ela, apenas tida como um "pretexto", uma vez que para aí o que (de facto) importa é requalificar e valorizar o que disso com urgência carece o troço de território, a paisagem, as actividades e as vocações do(s) sítio(s), onde alguns lugares começam a emergir sem nexo, sem tino e sem futuro.
Razão parece ter o presidente da Câmara de Ílhavo. Diz ele que do que se precisa é de um projecto de plano e não do projecto de uma estrada.
Uma estrada quando encurta, normalmente também corta e - mesmo em termos viários - do que para aqui se precisa, não é que se encurte o que quer que seja, muito menos o tempo, o espaço, as vistas e surpresas.
Um plano quando alonga, normalmente também une e - em termos urbanísticos - do que para aqui se precisa é de alongar (alguns) tempos - o da investigação, proposição e ponderação - encurtando outros - o da decisão e execução -, assim suscitando a união de territórios e casos, de oportunidades e circunstâncias, num esforço transversal que potencie e consolide "charneiras" a de Ílhavo - Aveiro; a da Terra - Ria; a dos Serviços - Residência; a do Trabalho - Lazer e a do Circular - Fluir.
São as teclas - as pretas (curtas) dos esteiros e as brancas (compridas) dos cabeços -, dum piano com cauda para além da EN109 - em Aradas, Verdemilho e Coutada -, que precisam de ser tocadas de modo afinado, eficaz e encantador. Ou seja do que se precisa é de um plano com dimensão estratégica, centrado na água, que cuide (também) de coisas mais terrenas, como a Universidade e os Universitários, o Matadouro, os Ciganos, o Esteiro de S. Pedro, o Junco, a Canísea e as Arvéolas, o Poço de Santiago, o Lago do Paraíso (com Vela, Remo e sei lá que mais), as Marinhas, os Marnotos, o Sal e o Sol; a Serradela, a Enguia, a Tainha, o Robalo e os outros peixes de aviário; o Poente, as Gaivotas e o Céu; regressando por um outro esteiro qualquer (mais a sul, talvez) ao que se passa - e ao que haveria de passar -, num outro cabeço e tecla, também, para bom proveito e bom governo de todos nós: Ámen!
