Corpo do artigo
Pedro Santana Lopes "pretende efectuar uma correcção prudente da política de austeridade dos últimos dois anos". É o que escreve o diário alemão "Frankfurter Allgemeine Zeitung"(FAZ), que, na sua edição de ontem, publicou uma entrevista ao primeiro-ministro português.
O governante deu, assim, sinais de que a política económica-financeira do seu Governo se vai afastar das opções seguidas pela ex-ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite. Ou seja, Santana parece desviar-se da linha de continuidade que terá prometido a Jorge Sampaio prosseguir (ler texto nesta página). "A política tem de se orientar para um maior crescimento económico", afirmou Santana, adiantando que "chegou agora o momento para alterar o rumo". E acrescentouque a política consequente de Durão Barroso e os sinais positivos do desenvolvimento económico permitiam "uma alteração com mais investimentos estatais". Numa entrevista efectuada antes da visita de Schroeder a Lisboa, o correspondente do FAZ, Leo Wieland, questionou o chefe do Governo português, salientando que tanto ele como o chanceler defendem uma interpretação mais flexível do Pacto de Estabilidade e Crescimento, também para se estabilizar "a reanimação económica, em recomeço, tanto na Alemanha como em Portugal". Santana, que gostaria de ver preservado "um certo rigor na disciplina orçamentária, mas não num espartilho demasiado apertado", admitiu que "Portugal teve de tomar nos últimos anos duras decisões anticíclicas, em parte provocadas por um Governo socialista que não respeitou o limite dos 3% do défice orçamental". Por isso, disse, "num período difícil de crescimento fraco e até negativo, tivemos de ajustar o Orçamento. Mas a economia está a recuperar e contamos ter para o próximo ano um crescimento económico de 2,3%. A situação agora é outra. As exportações crescem e as importações também. Todos os sinais são bons, à excepção do mercado de trabalho. Tivemos este ano também boas notícia sobre investimentos estrangeiros, nomeadamente alemães. A produtividade é agora uma prioridade. Mas já deixámos para trás metade do túnel", concluiu.
Governo propõe referendo europeu para 10 de Abril
Ainda na entrevista, Santana anunciou que pretende que o referendo sobre o Tratado Constitucional europeu se realize a 10 de Abril. Mais tarde, o ministro dos Assuntos Parlamentares, Rui Gomes da Silva, propôs essa mesma data aos partidos políticos. O ministro sugeriu, ainda, a abertura do processo de revisão constitucional, uma iniciativa que terá de partir dos partidos. Gomes da Silva defendeu que só depois de alterada a Constituição se deverá partir para a elaboração da pergunta.
Entendimento diferente tem o PS, que reafirmou que primeiro se deve apresentar a pergunta que se pretende fazer no referendo, mas o líder parlamentar, António José Seguro, não adiantou se é favorável a uma revisão da Constituição. Os restantes partidos - PEV, BE, PCP, CDS-PP e PSD - manifestaram-se a favor da revisão da Constituição para permitir uma "pergunta clara".