São Tomé e Príncipe: PM diz que perdeu apoio parlamentar por descobrir casos de corrupção
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Lisboa, 20 Mai (Lusa) - O primeiro-ministro são-tomense afirmou que elementos ligados aos partidos que derrubaram hoje no parlamento o Governo estão envolvidos em casos de corrupção e desvio de dinheiros públicos em departamentos estatais.
Em declarações à Lusa, Patrice Trovoada adiantou que o Governo ordenou inspecções ao nível das Finanças a departamentos governamentais que eram dirigidos por elementos ligados ao Partido da Convergência Democrática (PCD) e do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe/Partido Social Democrata (MLSTP/PSD), e que estas concluíram pela existência de "corrupção e desvio de dinheiros públicos".
O PCD, que era um dos três partidos na coligação governamental, e o MLSTP/PSD, o maior partido na oposição, aprovaram hoje no Parlamento a moção de censura que ditou a queda do Executivo
"No debate de hoje não transpareceram razões válidas para a queda do Governo. É só um jogo político de um grupo de indivíduos com interesses particulares", afirmou Patrice Trovoada num contacto telefónico feito pela Lusa a partir de Lisboa.
Para Trovoada, a moção de censura foi "um complot das elites que não gostam de ver os seus interesses particulares afectados e que querem adiar o país".
Trovoada escusou-se a adiantar quais os departamentos envolvidos e os nomes dos políticos acusados.
"Algumas pessoas não gostam de um Governo que diz que é preciso combater a corrupção e que é preciso fazer mais", disse Lusa.
"Sempre estive consciente de que um Governo que quer reformar São Tomé e pôr ordem e disciplina e transparência nos negócios do Estado iria encontrar resistências", adiantou.
Os deputados da Assembleia Nacional de São Tomé e Príncipe aprovaram hoje, por maioria, uma moção de censura que ditou a queda do Governo, que era formado pela Acção Democrática Independente (ADI), de Patrice Trovoada, pelo Movimento Democrático Força da Mudança (MDFM) e pelo Partido da Convergência Democrática (PCD)
A moção de censura ao Governo, apresentada pelo MLSTP/PSD, foi aprovada com 30 votos a favor, 23 votos contra e duas abstenções.
Minutos antes da votação da moção de censura, a bancada do PCD numa declaração politica retirou confiança ao primeiro-ministro.
O MLSTP/PSD e o PCD estão a "colocar a democracia em perigo", considerou Patrice Trovoada.
"O Governo estava a trabalhar junto da comunidade internacional para encontrar ajuda externa para o arquipélago, como é exemplo o caso de Portugal, que tinha demonstrado disponibilidade para ajudar", adiantou.
A queda do Governo, afirmou, descredibiliza a imagem do país junto da comunidade internacional e coloca em causa toda a ajuda de que o país precisa, pelo que é "uma irresponsabilidade e um acto criminoso".
Patrice Trovoada destacou ainda o que considera uma "incoerência" dos deputados que aprovaram a queda do Executivo, quando "os sindicatos sairam à rua para apoiar o Governo mesmo não estando previstos aumentos salariais no "Orçamento de Estado"
Trovoada disse que o MLSTP "ficou em pânico e pensou atacar o mais rápido possível quando percebeu que havia uma maioria qualificada que tinha o apoio do Presidente Fradique de Menezes".
O PCD, adiantou, estava a "pilotar projectos fora do orçamento e percebeu que estava a perder influência dentro do governo e a ficar afastado das grandes decisões, pelo que resolveu reagir apoiando a moção de censura do MLSTP".
O primeiro-ministro cessante afirma que já falou com presidente São-tomense a comunicar a decisão, escusando-se a adiantar mais pormenores sobre a conversa.
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