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Passava-lhe pela cabeça levar o Setúbal à Europa?
No início, não. Depois, tive indicadores como um jogo com o Sevilha, na pré-época, em que empatámos e merecíamos ter ganho. Senti que podíamos fazer algo de especial, fomos ganhando consistência e, em Janeiro, colocou-se a possibilidade de dar um impulso à equipa. Com mais um ou dois jogadores, podíamos ter lutado pelo segundo lugar e ir à Liga dos Campeões. Mas o presidente disse-nos que o clube precisava de liquidez e aceitámos isso com as vendas do Edinho e do Matheus.
Foi por isso que a equipa quebrou na recta final da época?
O Matheus e o Edinho representavam a nossa matriz, um futebol rápido, com profundidade ofensiva e tivemos de modificá-lo. Não ficámos tão fortes, mas respondemos com seis vitórias seguidas. Tínhamos um plantel curto, fomos a equipa que menos jogadores utilizou na Liga e chegámos a levar 16 jogadores para o banco. O esforço físico recaiu muito no núcleo duro e isso reflectiu-se na parte final da época. Não fomos à final da Taça de Portugal porque o F. C. Porto foi melhor.
Quando foi para Setúbal, não teve receio de regressar onde foi feliz?
Não, não vivo de ideias feitas nem de chavões. Até gosto de contrariá-los. Cumpri o meu dever, mas tivemos grandes dificuldades. O Setúbal era apontado como a primeira equipa a descer e fala-se em insolvência. Tínhamos um projecto de colocar o clube num patamar superior e fizemo-lo logo no primeiro ano, quando nos propusemos a fazê-lo em dois ou três. Fui eu que contratei os jogadores. Esgotámo-nos um pouco no clube, mas ajudámo-lo na reabilitação financeira. O Daúto Faquirá é uma excelente opção.
Setúbal foi a sua ressurreição depois de ter saído do Braga e do Beira-Mar?
Não concordo. Não tinha que estar a renascer, porque não morri. Sai de Braga por iniciativa própria, por questões pessoais, e saí do Beira-Mar não pelos resultados ou pela competência, mas porque alguém comprou o clube e colocou lá um treinador. Sempre tive uma boa relação com o presidente do Braga e cumpri o objectivo inédito de levar o clube à fase de grupos da Taça UEFA. No campeonato, estávamos a dois ou três pontos do quarto lugar. Nunca senti que não era querido nesses dois clubes. No futebol português, todos os treinadores têm oscilações
Mourinho nunca lhe disse nada pelo trabalho em Setúbal?
Trocámos uma ou outra mensagem escrita, quando venci a Taça da Liga e deu-me os parabéns no final da época. Mas não tive contacto pessoal.