C onheço poucos adeptos de futebol. Explicando, alguém que primeiro gosta do jogo e só depois do seu clube. Um desses poucos disse-me esta semana "Se a Liga dos Campeões fosse como um Mundial de selecções, eu até me esqueceria da final e preferia de longe o jogo do terceiro e quarto lugares". Ora também eu. Um Chelsea-PSV seria muito mais atractivo para o adepto do que o Milan-Liverpool. Talvez a final me desminta (e que assim seja, que não deixarei de a ver, mesmo que seja tão má como a do mesmo Milan com a Juventus há dois anos), mas, para já, o futebol defensivo e cínico ganhou.
Um outro amigo costumava repetir-me "No futebol não há sorte nem azar. O Eusébio não marcava mais golos só porque chutava mais vezes, mas porque chutava melhor". Embora admita que a competência conta muito, sobretudo em carreiras a médio-longo prazo, não tenho dúvidas de que a sorte é, inúmeras vezes, decisiva no futebol. Como na vida.
A sorte, que tantos viram como estando na base do sucesso de Mourinho, faltou desta vez ao treinador do Chelsea. O Liverpool foi feliz como não tinha sido nos outros jogos da época, todos muito disputados, com os azuis de Londres. Mourinho tem razão outra vez nas provas a eliminar a sorte conta muito mais dos que nas ligas.
O Milan está nas finais porque é afortunado, mas está lá quase sempre porque tem uma política desportiva competente. Muito mais, desde logo, que a do vizinho, rival e despesista Inter.
O PSV não está na final porque lhe faltou sorte (nos dois jogos!), mas voltou aos jogos decisivos porque quase 20 anos depois voltou a contar com a competência de Guus Hiddink.
Aliás, os holandeses ficaram em lágrimas, com duas equipas corajosas, ofensivas e atractivas (embora o PSV bem melhor que o Alkmaar) a verem fugir as finais quando pareciam perto de as alcançar. Mas há ali sinais de que o futebol holandês ressurge.
E o nosso futebol ? Três anos, três finais europeias. E todos devem desejar a terceira vitória (cuidado com o CSKA!). E o segundo lugar no Euro. Sorte? Seguramente não apenas.
Sorte e azar são outra coisa. Perguntem ao Miguel Garcia, que está tão pouco habituado a marcar golos de cabeça como penáltis. Ele sabe a diferença.
