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Ainternacionalização da música portuguesa tarda a ser posta em marcha devido "à inacção política". A acusação de Pedro Osório, administrador da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), marcou o debate "Soluções para uma indústria musical em Portugal", realizado anteontem, no Ateneu Comercial do Porto, com a presença de músicos, juristas e responsáveis da indústria.
"Há dois anos que andamos a lutar para que seja criado um gabinete de apoio à exportação musical portuguesa, à semelhança do que existe em muitos países, e temos perdido todas as batalhas", lamentou o compositor e maestro, para quem bastaria "vontade e empenho" para a concretização da ideia.
Ainda segundo o responsável da cooperativa de autores, a situação actual é "insustentável", uma vez que "as entidades oficiais e as privadas, como a SPA, gastam dinheiro separadamente na promoção, mas, se fizessem um esforço concertado, poupar-se-iam verbas". Para enfatizar o que considera ser o desacerto geral das autoridades oficiais, Pedro Osório revelou que, há dois anos, quando Mariza foi cabeça-de-cartaz no MIDEM, a convite de uma multinacional discográfica, o secretário de Estado da Cultura da época também esteve presente no maior evento europeu da indústria musical, que decorre todos os anos na cidade francesa de Cannes, mas não manifestou interesse em encontrar-se com a fadista nem tentou potenciar a visibilidade dada à cultura nacional, organizando eventos paralelos. "Perdeu-se uma oportunidade talvez única para promover outros artistas portugueses", adiantou Pedro Osório.
A tese dos discutíveis critérios governamentais foi corroborada por Adolfo Luxúria Canibal. O músico relembrou que, em 1998, o seu grupo, Mão Morta, participou num festival, em França, dedicado à música contemporânea portuguesa mas, ao contrário do que sucedeu com Miguel Azguime e Osso Exótico, viu recusado o apoio do Instituto Camões, por, alegadamente, os Mão Morta praticarem "música comercial". Uma opção que leva o artista a considerar que "há um desfasamento mental por parte de quem dirige entre o que é cultural e musical". "Infelizmente, é a antítese do espírito francês, país onde existe um gabinete que apoia todas as formas de expressão musical", prosseguiu o vocalista e fundador dos Mão Morta.
Para o músico Miguel Guedes, o "Estado não deve subsidiar a criação, mas sim a divulgação". A ideia foi partilhada por Pedro Osório "Não queremos subsídios, mas apoio institucional".
Já Eduardo Simões, director da Associação Fonográfica Portuguesa, acredita que os esforços dos artistas devem centrar-se em território nacional, porque "os exemplos de amortização fora das fronteiras são escassos".
Apesar dos contactos nesse sentido, não foi possível obter por parte do Ministério da Cultura uma reacção às acusações.
