Corpo do artigo
Por vezes, ser argumentista - de BD, de cinema, romancista até- é, nitidamente, puro divertimento. Quando quem escreve joga com as personagens, a acção, certos estereótipos, subvertendo situações e características para dar origem a obras por vezes estranhas, por vezes aliciantes, quase sempre surpreendentes.
De memória, sem esforço, ao correr da escrita, recordo "Le maitre dês montagnes" (Lombard), uma aventura do vicking Thorgal já com alguns anos, em que sucessivos saltos temporais originam díspares futuros, todos igualmente coerentes e credíveis, cuja concepção deve ter dado um grande prazer a Van Hamme, o argumentista.
Puro divertimento é, também, o nº 14 de "Nick Raider, O Sequestro", de Cláudio Nizzi e Aldo Capitanio, uma história de equívocos, que começa pelo roubo de um carro transformado em falso (verdadeiro) sequestro, devido à presença de um bebé no seu interior, que redunda num verdadeiro (falso) sequestro, que, no final, acabará por se revelar um surpreendente engano, após investigações, alguns tiros e uma louca perseguição automóvel.
E puro divertimento é, igualmente, "Grand Guignol - O teatro da vida e da morte", uma história de Sclavi e Piccatto, publicada em" Dylan Dog #16", em que tudo se passa num teatro, no qual a vida real vai sendo transformada em peça encenada, sendo o leitor sucessivamente iludido quanto ao que é realidade ou tão só representação, até ao apoteótico e surpreendente final.
Estes dois são bons exemplos daquilo que é capaz a actual BD popular italiana, que a Mythos Editora vai distribuindo regularmente pelos quiosques portugueses.
F.Cleto e Pina
