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Lisboa, 25 Mar (Lusa) - As peças destinadas a crianças têm aumentado nos últimos anos e são muitas as companhias que se dedicam a representar para os mais novos, mas o teatro infantil não passa ao lado das dificuldades que afectam os artistas em geral.
"O TIL (Teatro Infantil de Lisboa) só vive há 30 anos de teatro infantil, é difícil, mas tão difícil como fazer teatro para adultos", disse à Lusa o actor e encenador Fernando Gomes, que há muitos anos faz espectáculos para crianças.
Na televisão participou no início dos anos 90 na "Rua Sésamo", com o personagem Zé Maria. Mais recentemente entrou na série "A minha família é uma animação", onde fazia de avô do Neco, um desenho animado que era o personagem central.
"Comecei a fazer espectáculos para crianças no final dos anos 70 (na Casa da Comédia), resultaram bastante bem e nunca mais deixei de fazer", afirmou o actor, que vai alternando a sua participação em espectáculos infantis com o teatro para adultos.
Fernando Gomes, um dos rostos conhecidos dos programas para os mais novos, começou com um espectáculo itinerante para crianças fazendo dupla com Filipe Crawford.
"Viajámos um ano com as malas às costas pelo país, nas escolas. Tínhamos um cenário que montávamos e era bastante divertido", recordou o actor e encenador que, mais tarde, depois de ter começado a fazer produção de espectáculos para adultos na Comuna continuou ligado ao meio infantil.
Segundo o encenador, o teatro infantil "não dá para sustentar uma companhia, mas os actores fazem dobragens e participam noutros espectáculos".
Maria João Trindade é directora e actriz da companhia Lua Cheia, um grupo de produção de espectáculos "preferencialmente para a infância".
A Lua Cheia existe desde 1998 e produziu até agora 15 espectáculos, alguns inseridos em projectos pedagógicos. Muitas vezes vai apresentando o que faz em itinerância, dado que não tem um espaço próprio.
Nos últimos tempos, o grupo tem trabalhado no Teatro da Marioneta, mas quando estreia uma produção vai à procura de um local para a apresentar.
"Necessitamos de um espaço próprio, não tanto para apresentar os espectáculos, mas para os preparar e ensaiar", disse à Lusa a responsável pela Lua Cheia, grupo que tem um escritório em Lisboa e um armazém em Palmela.
Em 2006, a companhia fez "A Menina do Mar", um espectáculo com música ao vivo, inspirado na obra de Sophia de Mello Breyner. O espectáculo, que era uma encomenda da Fundação Gulbenkian, foi apresentado nesta instituição e na Casa da Música.
Maria João Trindade explicou que a associação cultural Lua Cheia tem 15 membros, mas só três ali trabalham a tempo inteiro, por exemplo, os técnicos são contratados.
O grupo sobrevive com "receitas de bilheteira, com apoios pontuais e com muita carolice", indicou.
Em 10 anos, "tivémos unicamente cinco apoios do Ministério da Cultura, sempre até 20 mil euros", referiu a actriz que justifica a situação com "a falta de apoio para a cultura em geral".
Em 2007, o grupo apresentou um total de 127 espectáculos em todo o país.
"Estou envolvida em trabalho para a infância desde 1978 e há um crescendo nos últimos anos", apontou Maria João Trindade.
Os números Inspecção-Geral das Actividades Culturais indicam esse crescimento.
Em 2007 foram 114 as peças de teatro registadas para maiores de 4 anos e maiores de 6 anos, contra as 97 registadas no ano anterior e as 81 referentes a 2005.
A companhia Pé de Vento, do Porto, um projecto que também privilegia o público infantil faz este ano 30 anos.
Segundo o encenador João Luiz, a companhia faz em média 110/120 representações por ano e estreia duas a três criações, mantendo outros espectáculos em repertório.
Desde 1996 que o Pé de Vento dispõe de um espaço próprio (cedido no âmbito de um protocolo com uma junta de freguesia), o Teatro da Vilarinha, onde recebe de 9 mil a 10 mil jovens por ano, sobretudo alunos de escolas que deslocando-se a uma sala de espectáculos "têm outro contacto com a actividade artística".
Mas, ultimamente o público tem vindo a diminuir, queixa-se o director do grupo.
"Há escolas que têm alunos muito carenciados. As pessoas não podem pagar um bilhete de teatro quando têm outras necessidades", disse o encenador, que apontou também as "dificuldades" das autarquias que apoiam estes grupos de teatro para justificar a diminuição do público registada nos últimos três ou quatro anos.
O grupo Pé de Vento recebe subsídios do Ministério da Cultura (cerca de 90 mil euros por ano) e da Câmara do Porto (cerca de 20 mil), revelou João Luiz alegando que "nenhuma entidade subsiste só pela bilheteira".
Apesar das dificuldades, o teatro para crianças "tem outro tipo de magia", nas palavras de Fernando Gomes.
EO.
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