Relatórios confidenciais da Aeronáutica indicam que a tragédia do Boeing da companhia aérea GOL, que chocou com um jacto Legacy, poderia ter acontecido em outros três casos este ano no Brasil, refere a última edição da revista Época.
Os documentos do Comando da Aeronáutica mostram que o primeiro incidente ocorreu a 16 de Janeiro, quando um Boeing da Varig, que tinha descolado de Curitiba para Porto Alegre, passou a cerca de 300 metros de um Folker da companhia TAM.
O segundo caso foi a 19 de Maio, quando um Boeing da Gol quase chocou com um avião Cessna que realizava exercícios de pára-quedismo.
As duas aeronaves passaram a 150 metros uma da outra e o incidente foi considerado de alto risco de colisão.
O terceiro incidente foi registado a 30 de Junho, no espaço aéreo de Manaus, onde um avião, modelo MB 11, da Varig passou a menos de 50 metros de uma aeronave da Força Aérea Brasileira.
"Fui surpreendido por um vulto no pára-brisa. O vulto era um avião passando a apenas 50 metros à frente", escreveu o piloto da Varig em um relatório para a empresa.
Questionada pela Época, a Aeronáutica negou que os aviões voem muito próximos uns dos outros e afirmou que "o espaço aéreo brasileiro segue as regras internacionais de conduta".
Hoje, o Tribunal de Contas da União (TCU) deu início a uma auditoria para investigar as causas e os responsáveis pela crise do sector aéreo brasileiro.
Desde o final de Outubro, quando os controladores de tráfego aéreo resolveram fazer a chamada "operação-padrão", ao seguir rigidamente as normas internacionais, os passageiros estão a sentir os efeitos da crise no sector.
O objectivo da "operação-padrão" seria a garantia da segurança dos voos, já que as normas internacionais determinam que cada operador deve controlar, no máximo, 14 aeronaves ao mesmo tempo.
Nos Estados Unidos, o máximo são seis aeronaves por controlador e na Europa são oito.
No Brasil, antes da "operação-padrão", um profissional chegava a controlar até 20 aeronaves simultaneamente, em horários de maior movimento.
Ao seguir estas normas à risca, os controladores acabaram por originar atrasos na aterragem e descolagem dos voos em todo o país.
A 02 de Novembro, feriado no Brasil, houve um verdadeiro colapso do sistema aéreo, com muitos voos cancelados e passageiros a aguardarem mais de 20 horas nos aeroportos.
A "operação-padrão" terminou no último dia 04, mas o problema dos cancelamentos e atrasos dos voos continuou.
A Associação Brasileira de Controladores de Tráfego Aéreo alega que a crise é consequência do número insuficiente de profissionais para operar as torres de comando.
Hoje, registou-se novamente o caos nos aeroportos brasileiros, mas o problema, que começou no domingo, deveu-se a uma fissura, causado pelas fortes chuvas, num cabo de fibra óptica do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo da região Sul do país.
Um documento do Conselho de Aviação Civil (Conac) assinado a 31 de Outubro de 2003 pelo então ministro da Defesa brasileiro José Viegas, já antecipava o colapso do sector aéreo pela falta de aplicação de recursos.
Apesar disso, está previsto no Orçamento de 2007 um corte de oito por cento da verba do programa Proteção ao Voo e Segurança do Tráfego Aéreo do Brasil, inversamente ao número de passageiros que está a crescer de 15 a 20 por cento ao ano.
O problema do tráfego aéreo brasileiro evidenciou-se após o acidente a 29 de Setembro entre um Boeing da companhia aérea GOL e um jacto Legacy, que resultou na morte de 154 pessoas, entre elas o empresário português António Armindo, de Matosinhos, que estava a trabalhar no Brasil.
Oito controladores que estavam a trabalhar neste dia no aeroporto de Brasília foram dispensados até que as investigações sobre o acidente sejam concluídas, o que expôs a fragilidade do sector aéreo brasileiro.
A Polícia Federal está a ouvir hoje todos os controladores que estavam de plantão em Brasília e em São José dos Campos no dia do pior acidente da história da aviação brasileira.
