
Presença de Josiane Balasko num filme já faz valer o preço do bilhete
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Lenda viva da comédia francesa contemporânea, a atriz Josiane Balasko falou ao JN de "Meus Ricos Filhos", o seu novo filme, já nos cinemas nacionais.
É um dos ícones da comédia à francesa. Hoje com 72 anos, fez teatro e cinema, ganhou um César como argumentista de um dos filmes que realizou e foi nomeada para outros sete Césars como atriz.
Mesmo que um filme em que entre não seja uma obra-prima de originalidade, a sua presença já vale o bilhete.
É o caso de "Meus Ricos Filhos", já em cartaz, onde interpreta o papel de uma reformada que vive uma existência tranquila com o marido.
Mas os filhos já não lhes ligam nenhuma e quando lhes anunciam que nem vão passar o Natal com eles, Chantal e Christian fazem-lhes crer que ganharam o euromilhões... Sempre bem humorada, Josiane Balasko falou ao JN.
Recentemente fez dois filmes sobre a relação entre mãe e filha...
É uma coincidência. "Olá, é a Mamã!" foi rodado há dois anos e só estreou este ano, por causa do covid. O "Meus Queridos Filhos" foi terminado há alguns meses e já estreou normalmente.
Mas é um tema que lhe interessa?
As duas personagens eram interessantes a interpretar. O "Olá, é a Mamã!" é a continuação de "Isto Só a Mim!". Voltei a meter-me na pele de uma personagem que já conhecia. Uma mulher cheia de caráter, que vai instalar-se temporariamente com a sua filha, mas acaba por ficar muito mais tempo.
Neste filme a história e a personagem são bem diferentes...
As personagens centrais são um casal. Interpreto a mulher do Didier Bourdon. Moram nos subúrbios e são reformados. Aborrecem-se bastante, à parte fazerem um pouco de jardinagem e lerem umas revistas. Os filhos já não vivem com eles. Ela anda sempre triste, é mesmo um pouco depressiva. E o marido tem uma ideia, para juntar a família, pelo menos uma vez por outra. Inventa que ganharam uma fortuna no Euromilhões!
O que pensou da ideia?
É original, mas é verdade que podia tornar-se um filme muito cínico. Quando os pais lhes dizem que ganharam uma fortuna no Euromilhões, os filhos pensam logo que vão poder aproveitar-se um pouco, o que é lógico. A filha vive com o namorado, mas ainda não têm filhos, o filho é celibatário, têm a vida pela frente.
Enquanto mãe, sente-se próxima de Chantal, ou é uma mãe completamente diferente?
Não sou uma mãe intrusiva. A minha filha, a Marilou Berry, entra no filme e faz precisamente o papel de minha filha, o que foi muito agradável. O que pensámos foi que íamos trabalhar juntas durante três semanas. Encontrar-nos cedo na sala de maquilhagem e partilhar coisas que ainda não tínhamos tido oportunidade de partilhar.
Como é que recebeu a informação de que a sua filha ia fazer de sua filha?
Quando a realizadora me enviou o guião, o casting ainda não estava terminado. Ainda não tinha escolhido a atriz para interpretar a minha filha. Um dia telefonou-me, a perguntar se eu não me importava que ela convidasse a Marylou. Disse-lhe que muito pelo contrário, ficava encantada, porque é uma excelente atriz. Não é tanto por ser minha filha, mas por ser mesmo uma excelente comediante.
Quando a sua filha lhe disse que também queria ser atriz, disse-lhe para escolher outra profissão ou encorajou-a?
A Marylou tinha 16 anos e já tinha uma personalidade muito forte. Mas eu não tinha nada contra, não lhe podia dizer que não queria que ela fosse atriz. Aconselhei-a apenas a terminar os estudos e depois logo se via. Ela encontrou uma escola onde podia ter também aulas de representação. Quando vi a primeira coisa que a minha filha fez, uma peça em forma de monólogo, vi logo que ela ia conseguir.
Pode falar um pouco do seu trabalho com o Didier Bourdin? Há uma forte química entre os dois.
É a segunda vez que faz de meu marido. O Didier faz-me rir bastante, tem um sentido da comédia impressionante. Acho que nos compreendemos bastante bem e fazemos um casal completamente credível.
A Josiane é bastante conhecida internacionalmente, o Didier é uma das surpresas do filme, parece que também é adorado em França.
Ele fez parte de um grupo, Les Inconnus, que eram super famosos. Fizeram dezenas e dezenas de sketches na televisão, fizeram vários vídeos. Em França é alguém de muito conhecido e muito respeitado no mundo da comédia. É um ator formidável.
Apesar de todos os outros papéis que representou, é mais conhecida pelas suas comédias, sempre muito populares em França?
A comédia, sobretudo nestes tempos que vivemos, é um género muito libertador. Vivemos numa época de grande ansiedade, há dois anos que há este vírus que nos obriga a manter-nos à distância, a ficar em casa. A comédia faz-nos esquecer. Acabei de fazer quatro meses de teatro, onde fiz uma comédia, claro, estava quase sempre cheio e as pessoas vinham dizer-nos no fim que a peça lhes tinha feito bem.
As pessoas voltaram aos teatros, mas há ainda alguma reticência em regressar aos cinemas.
Ir ao teatro é um acontecimento. Quando as pessoas vêm ver-me no final dos espetáculos, dizem que foi a irmã ou o marido que lhes ofereceu o bilhete. Quando vamos ao teatro, é ao vivo, é sempre uma noite que não se esquece. Quanto ao cinema, nas plataformas há tudo o que se quer.
Há muito que não faz um filme como realizadora. Tem algum plano para regressar?
Perdi a vontade de fazer filmes como realizadora. Talvez por trabalhar bastante como atriz. Quando leio um guião, penso mais na personagem que posso interpretar. E nestes últimos anos tenho sido bastante mimada como atriz. Realizar um filme é longo, é complicado, há muita coisa em jogo que pode ser destruída logo no dia da estreia. Prefiro consagrar-me ao trabalho de atriz.
Depois de se tornar também realizadora, quando faz um filme só como atriz, passou a dar uma olhada ao trabalho do realizador ou realizadora?
Nunca. Ser realizador é estar sempre presente, da manhã à noite, para resolver todos os problemas. Enquanto ser ator é um trabalho preguiçoso, estamos a maior parte do tempo no camarim à espera de sermos chamados. Quando volto para casa à noite não estou a pensar no plano de trabalho do dia seguinte. Faço sempre confiança no realizador.
Precisamente, como é que se processou o trabalho com a Alexandra Leclerc?
É a terceira vez que trabalho com ela. Fiz um filme que se chama "Maman", com a Mathilde Seigner, que fez de minha filha, depois fiz uma personagem em "Bem-vindos... Mas não Muito" e agora reencontramo-nos. Ela é bastante fiel aos seus atores. Já a conheço bem, sei como trabalha, tem ideias muito precisas. É alguém com uma grande inventiva.
