
Maria do Carmo Oliveira, professora na Escola Secundária Aurélia de Sousa, no Porto
Artur Machado/Global Imagens
Para auxiliar os alunos na aproximação à obra de José Saramago, uma professora do Porto aposta numa estratégia diferenciadora. Da criação de videojogos à organização de viagens e jantares literáros, o mais importante é mesmo envolver os jovens.
Como cativar para o absorvente mas complexo universo literário saramaguiano alunos com índices de leitura, na sua maioria, baixos ou até nulos?
A questão preocupa há muito professores de todo o país, dada a forte representação dos livros do Nobel da Literatura nos currículos, com 20 títulos no Plano Nacional de Leitura e a obrigatoriedade da leitura de alguns desses em diferentes níveis de ensino.
Às reconhecidas dificuldades da tarefa procurou responder Maria do Carmo Oliveira, professora de Português da Escola Secundária Aurélia de Sousa, no Porto, com uma estratégia diferenciadora, criando "ambientes não formais de aprendizagem".
Para ir ao encontro das principais apetências dos chamados "nativos digitais", instou-os a produzirem um videojogo, com a ajuda do professor de Aplicações Informáticas, que contivesse elementos do romance "Memorial do convento", objeto de estudo no 12. ano de escolaridade.
Através da criação de um mundo virtual próprio, os alunos foram desafiados a reconstituir um dos momentos narrativos mais singulares do romance: a recolha das duas mil vontades que Blimunda concretiza em Lisboa.
O envolvimento dos alunos foi evidente, mas não a surpreendeu por inteiro, já que "se os alunos são capazes de dominarem jogos complexos online, também podem fazer o mesmo em relação à literatura"-
A abordagem seguida por Maria do Carmo Oliveira - que, à semelhança da adotada por outros professores, passa também por viagens aos locais do livro, encenações dramáticas ou jantares literários - só se tornou possível com as alterações introduzidas nos anos mais recentes, que dão aos professores uma autonomia maior na gestão dos conteúdos. "Não temos programa, mas aprendizagens essenciais e posso ir até além do que é proposto", explica.
Apesar dos resultados encorajadores, a docente está cética quanto ao futuro. "Não sei se a literatura vai ser capaz de competir com outras formas de entretenimento, muito mais imediatas e sedutoras aos olhos dos jovens", vinca, apontando como exemplo o número crescente de alunos que chegam ao secundário "orgulhando-se de nunca terem lido um livro na vida".
