
"Jornal de Notícias" e cidade do Porto, onde Elisa e Marcela se refugiaram, foram exemplos de tolerância e solidariedade.
Se em 2019 o casamento de pessoas do mesmo sexo já vai sendo encarado com normalidade, ou, pelo menos, sem surpresa, é fácil de perceber que em 1901 não era assim. Em lado nenhum do Mundo. Mas Elisa Sánchez e Marcela Gracia, duas professoras primárias galegas, fizeram-no, pagando um duro preço pela ousadia. Não foi abertamente um casamento gay, atendendo a que uma das duas se fez passar por homem, mas foi celebrado tanto no registo civil como pela Igreja Católica. E essa história de um amor mais forte do que as proibições, que vai da Corunha à América Latina, passando por Portugal, é contada de forma desenvolvida no N.º 18 da revista "Jornal de Notícias - História", que chega hoje às bancas.
Num extenso dossiê assinado por Mário Bruno Pastor, investigador da Universidade Católica Portuguesa, a saga de Elisa e Marcela é contada e contextualizada do momento em que as duas jovens mulheres se conheceram, na Corunha, às últimas notícias que dão pistas quanto ao destino de ambas, não só na Argentina, onde se supunha terminar o rasto, mas no México, onde fontes até agora desconhecidas dão conta de um desfecho trágico. Mas é particularmente interessante a estadia de ambas na cidade do Porto, onde o JN, cuja redação visitaram, deu voz a uma onda de solidariedade que envolveu a população, contrastando com a perseguição que lhes era movida em Espanha.
Um extenso artigo sobre a República de Weimar e a ascensão de Hitler, mais um capítulo da evocação de 200 anos de constitucionalismo, por Vital Moreira e José Domingues, ou uma entrevista de fundo ao historiador Álvaro Garrido são, também, motivos de interesse de uma edição especialmente rica desta revista bimestral.
