Edifício portuense celebra a maioridade com 18 dias de programação intensa e diversificada. Todas as músicas, como sempre esteve escrito na sua missão.
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Chegada à maioridade, a Casa da Música, no Porto, não se limita a juntar os amigos numa grande jantarada - quer dar prova de fôlego, com um programa de 18 dias recheado de concertos de variada índole, sessões de DJ, live acts, instalações, visitas guiadas e atividades para as famílias. Assume-se novamente como um poliedro - a forma escolhida pelo arquiteto que a desenhou, Rem Koolhaas - e recupera a dinâmica e a diversidade que tantas vezes faltaram nos últimos anos. Daqui em diante é que vai ser, esperamos todos.
Nesta sexta em que sopra as velas fica bem patente a transversalidade da proposta - na música, nos públicos, nos espaços. Às 21 horas há momento solene: a despedida do maestro austríaco Leopold Hager (n. 1935), que dirigiu a Orquestra Sinfónica do Porto entre 2015 e 2017. No ano em que abandona os palcos, a última recordação que deixa na Invicta será um concerto centrado na "Oitava sinfonia" de Bruckner, a ter lugar na Sala Suggia.
Mais tarde, às 23.30 horas, chega o momento de descompressão, que terá curva ascendente até à euforia, como manda a lei para quem faz 18 anos. São quatro registos para a pista, localizada no restaurante: do aquecimento com Atari 666, que cruza rock e pop dançável, às fervuras multiculturais de Branko, nome capital na mestiçagem de sons lusófonos. Pelo caminho há ainda a eletrónica de Tendency e mais um caldo de geografias pela DJ e manequim ZenGxrl.
Sábado será também dia eclético e efervescente. Arranca com Future Rocks, às 18 horas, na Sala 2: entrada gratuita para o concerto de jovens bandas formadas em escolas de música do Porto: Academia Valentim de Carvalho, Musicentro-Salesianos do Porto e RockSchool Porto. Às 22 horas, Sala Suggia, aventura nova para a Orquestra Jazz de Matosinhos, que estreia o clarinete como solista. Para cumprir o programa que percorre temas emblemáticos para esse instrumento, o virtuoso convidado é António Saiote. Depois, há outra vez festa, a partir das 23.30 horas, no Café Concerto: Azar Azar, que abusa e desbunda do jazz; e Da Chick, que traz no cardápio disco, punk, new wave e hip hop.
Os eventos prosseguem até dia 29, destacando-se a forte presença germânica no programa. Germânica e eletrónica, traçando-se uma linhagem desde um dos precursores da música trabalhada com máquinas, Karlheinz Stockhausen - figura do proa no cartaz de "Darmstadt: o jardim religioso?", que no dia 22 apresenta ainda composições de outros frequentadores dos "cursos de verão da nova música" na Escola de Darmstadt, nos anos 1950/60, como Pierre Boulez e Bruno Maderna -, até um dos discípulos mais ilustres, os Tangerine Dream, representantes da fação ambiental do krautrock, que no dia 26 irão apresentar "Raum" (2022), segundo álbum lançado depois da morte de Edgar Froese, fundador da banda.
Ainda da Alemanha, virá um compêndio de música coral, do Renascimento à atualidade, dia 29. Mas não faltará também o Brasil, pela voz de Leo Bianchini (dia 20), a folk portuguesa de Gabriel Pepe (dia 27) ou os "Hinos do Mundo", dia 23, com composições de John Cage, Boulez e Maderna.