Hoje, celebra-se o Dia Mundial da Dança e, às vezes, as grandes paixões obrigam a grandes sacrifícios - que envolvem custos na ordem dos milhares de euros -, como é o caso de quem decidiu fazer das danças do Mundo a sua profissão e o seu objecto de estudo.
As danças do Mundo (africana, indiana, flamenco, tango argentino, sufi, japonesas, danças da Europa e danças orientais) têm crescido em Portugal na última década. Se algumas apareceram por moda importada via televisão e novelas, outras surgem pela dedicação e esforço de alguns professores que se vão esforçando por trazer essas danças de carácter antropológico até aos seus alunos.
Para quem se dedica profissionalmente às danças do Mundo o caminho não é fácil. Eva Azevedo, professora de dança africana, conta: "Em Portugal, não existe formação académica e profissional nesta área". Da mesma dificuldade, sofreram Andreia Nascimento, professora de sevilhanas e flamenco, e Inês Tabajara, professora de tango argentino.
Perante as impossibilidades em obter formação, o percurso não foi o mesmo para todas. Eva Azevedo conheceu as danças africanas ao ver um vídeo que a deixou "fascinada" e passou a fazer viagens regulares do Porto a Lisboa para ter aulas com o professor Marc Ndamou, do Togo, mas depressa percebeu que era preciso "ir à fonte para sentir esta dança" e rumou a África - à Guiné Conacri e ao Burkina Faso.
Andreia Nascimento "não encontrava formação para o que pretendia, só havia um professor que ia de Lisboa para dar aulas ao Porto". Entre deslocar-se a Lisboa ou viajar até à Andaluzia, em Espanha, preferiu ir directamente ao berço do flamenco, mas "o preço das viagens, dos cursos e do material de dança e a gestão do tempo" obrigaram a um grande esforço, sobretudo, porque ainda era uma estudante. O caso de Inês Tabajara era um pouco mais crítico. A especialização que ela pretendia encontrava-se "do outro lado do Atlântico". Assim, foi encontrando alguns formadores noutros países da Europa, para os quais viajou para obter formação.
Gastar sem receber
Em números, a formação em danças do Mundo pode atingir valores altíssimos. Andreia Nascimento é a que viaja para mais perto (Andaluzia) e afirma gastar, em média, 115 euros por mês, entre formação e material, acrescentando que "a roupa e os sapatos são muito caros".
O valor gasto por Eva Azevedo ronda os 1300 euros por cada viagem até África e, como explica, "é dinheiro gasto e sem receber, porque, com recibos verdes, não tem direito a férias remuneradas". No caso de Inês Tabajara, os valores são astronómicos: "Cada viagem a Buenos Aires custa, no mínimo, 2000 euros".
À excepção de Eva Azevedo, todo o investimento feito em formação foi feito pelas próprias professoras. Depois de 13 anos de tentativas em várias entidades, Eva conseguiu, no ano passado, o apoio da Gestão dos Direitos dos Artistas, que lhe financiou a viagem até ao Burkina Faso.
O facto de não serem paixões de massas leva ao desconhecimento e a vários logros no mercado. Eva Azevedo explica que, neste ano, o Ministério da Educação tirou as danças do Mundo do programa curricular de escolas profissionais de dança como Ginasiano e Balleteatro, passando a ser cursos paralelos, e isso é, segundo a formadora, "uma regressão e não uma evolução".
