
Global Imagens / Arquivo
Helena Almeida, uma das mais reconhecidas artistas plásticas portuguesas morreu, esta quarta-feira, aos 84 anos. Da Presidência da República à comunidade artística, as reações ao legado que deixa são unânimes.
Numa mensagem divulgada no site da Presidência da República Portuguesa, o chefe de Estado partilha ter recebido "com grande pesar" a notícia do falecimento de Helena Almeida, "uma artista ímpar, inconfundível, profundamente original e justamente reconhecida em todo o mundo". Marcelo Rebelo de Sousa lembra que a artista, "filha do escultor Leopoldo de Almeida, dedicou toda a vida à sua vocação artística, não como uma obrigação, mas como um desígnio". "Um talento inevitável, portanto, que influenciou tantas gerações de artistas portugueses e internacionais", lê-se na mensagem.
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"Com a morte de Helena Almeida, perdemos uma das nossas maiores artistas. Sem nunca deixar de se considerar pintora, usando a fotografia, criou uma obra inconfundível. Foi um privilégio acolher na Arte em São Bento 2017, na Residência Oficial, algumas das suas emblemáticas obras", escreveu o primeiro-ministro António Costa na sua conta na rede social Twitter.
"A singularidade do seu olhar sobre a criação e o processo artístico sustenta-se ainda num comprometimento direto com o seu próprio corpo, exposto na dupla condição biográfica e ficcional. De certo modo, na sua relação com o corpo, Helena Almeida fixava também um olhar sobre a mulher através da história da arte, e em particular na história da arte portuguesa, procurando inscrever uma memória que antecedia e prolongava o que nela escolhia fixar", comentou o ministro da cultura, Luís de Castro Mendes.
"É sem dúvida uma das maiores artistas portuguesas do século XX", afirmou o curador Pedro Lapa, em declarações à Lusa, destacando o "trabalho ímpar" de Helena Almeida, "num contexto da situação daquilo que hoje se designa de neovanguardas -- um conjunto de artistas que nas décadas e 1960/70/80 reviram muito do legado das vanguardas artísticas das vanguardas históricas, e procuraram redefinir os caminhos dessa mesma vanguarda".
É de lamentar a morte de uma artista portuguesa "que tem um papel fundamental na arte contemporânea em Portugal, sobretudo desde o início do seu percurso, em finais da década de 1960", reagiu o curador Sérgio Mah. Para o docente universitário e investigador, professor de fotografia e arte contemporânea, a artista plástica "teve um papel decisivo no repensar da natureza e do horizonte da prática da pintura", tendo ainda privilegiado a fotografia.
Delfim Sardo, que foi curador de uma exposição dedicada à artista em 2013, em Lisboa, sublinhou a importância que Helena Almeida deu à representação do corpo, sempre do corpo dela, "com uma poética pessoa fortíssima" e acompanhando a tendência artística desde a década de 1960. "É sempre um trabalho desafiador e que problematiza não só as questões do feminino, como as questões da identidade, da imagem fotográfica, da relação da pintura com a fotografia. Tem todas as características para ser um trabalho pioneiro no contexto da arte europeia", disse o ensaísta.
A diretora do Museu Arpad Szenes-Viera da Silva, Marina Bairrão Ruivo, disse que a artista "era das mais importantes do panorama do século XX e início do século XXI", em Portugal, já que tinha uma obra "extremamente original". O museu acolheu este ano a mais recente exposição de Helena Almeida, "O outro casal", conjugando o seu trabalho com o marido, o arquiteto e escultor Artur Rosa, com a obra de Arpad Szenes e Maria Helena Vieira da Silva.
