Esgotar num ápice um Altice Arena, em Lisboa, não obstante ter apenas 17 anos e um único disco no mercado, não está ao alcance de qualquer um. Mas a norte-americana Billie Eilish, que a esta hora canta para milhares de fãs na emblemática sala de concertos da capital, conseguiu essa proeza com um concerto que está esgotado há meses.
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"Ela tem um talento enorme. Consegue, com as suas letras cantar o que muitos de nós sentem mas não conseguem transmitir". As palavras da jovem bracarense Beatriz Pinto, de 17 anos, sintetizam na perfeição o que levou milhares de fãs a esgotarem o único concerto desta estreia meteórica no nosso país da cantora norte americana.
"Só sei que vou chorar baba e ranho mas que também me vou divertir. As canções têm estilos muito diferentes. Sei que vai ser um concerto muito energético e muito emocional", diz a mesma Beatriz Pinto, ela própria já à beira das lágrimas só de pensar que iria ouvir ao vivo o tema "I Love You", um dos que não faltariam no alinhamento do concerto.
Desde o início da tarde que os fãs de Billie Eilish começaram a concentra-se junto ao Altice Arena. Um formigueiro de adolescentes, na sua maioria, alguns deles acompanhados pelos pais aguardava impaciente a abertura de portas. Os mais persistentes pretendiam garantir um bom lugar no espaço, bem junto ao palco. Daí que, mal as portas se abriram galgassem, a correr, a escadaria de acesso ás diversas entradas da sala. No exterior não havia sequer um cartaz com a indicação de quem é que ali iria cantar. Nem era preciso. O universo impactante que a cantora gera é quanto basta para os fãs.
"Ela é autêntica. Não está com rodeios nem se preocupa com as aparências. Tem uma voz linda e um grande talento. Canta coisas que que transmitem um leque de emoções. Sei que quando ela cantar "I Love You" vai ser esse o momento em que me vou emocionar mais. Identifico-me muito com ela", admitia Maria Inês, de 16 anos.
"Eu não conheço a cantora nem as suas músicas. Mas já percebi que ela é um fenómeno", confessou Catarina Correia que, um tanto atordoada com a multidão, se escudou a um canto, junto aos seguranças que organizavam o acesso ao recinto. "Estou aqui porque fiquei de me encontrar com a minha filha e uma amiga dela para lhes entregar os bilhetes. Não me dava jeito nenhum porque até estou com uma tendinite. Mas o que é que não fazemos pelos filhos, não é?".
Quem o diz é uma mãe mas também poderá ser um pai. José Pedro, de 65 anos, residente em Vila Real, mas a passar férias num parque de campismo em Sesimbra, estava na fila no meio de centenas de adolescentes. "Vim acompanhar a minha filha, mas ela nem sequer está aqui comigo. Já foi à frente para arranjar um lugar melhor na sala. Não estou junto dela porque ela tem sentido de responsabilidade. Dou-lhe liberdade porque confio. Comprei também bilhete porque tenho curiosidade em ver como é o concerto ao vivo. Até porque conheço algumas canções".
Inicialmente marcado para o Coliseu de Lisboa, o primeiro concerto de Billie Eilish em Portugal gerou tanta procura de bilhetes que acabou por ser "transferido" para a Altice Arena. A jovem protagonizou, há três dias, um concerto em Barcelona que foi muito elogiado pela comunicação social local. Na imprensa, o La Vanguardia elogiou o espetáculo sublinhando o facto de a artista, não obstante se apresentar lesionada num joelho, se apresentou em palco com uma "intensidade louvável".
"Eilish não é apenas música", destaca ainda o jornal da Catalunha. "Há mais na essência de uma jovem que constantemente desafia os cânones da indústria e da estética, para através das suas criações mostrar o seu perturbante universo interior, (...) como se [a artista] e o seu público estivessem cansados da falsa felicidade que habitualmente aparece nas redes sociais. Em Sant Jordi (nome da sala de espetáculos), falou-se de vícios, desgosto, obsessão pela busca da liberdade individual, tudo combinado com uma sucessão de pensamentos sombrios".
Em palco esteve também o seu irmão, Finneas O'Connell, que com ela cantou o tema 'i love you', mas nenhuma trupe de bailarinos, observou o La Vanguardia. E é precisamente esse despojamento e autenticidade que atrai toda uma geração já nascida no século XXI.